Entendendo o marketing eleitoral da Aliança por BH

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Escrevo esta postagem com a pretensão de, tão somente expor ao leitor, o meu ponto de vista sobre o que observei nesta interessante campanha de Márcio Lacerda e da Aliança por BH . É claro que estou ciente de que, quem já é leitor deste blog saiba o meu posicionamento político a respeito desta disputa. Então, reafirmo aqui o meu compromisso de, objetivamente e sem fazer panfletagem, analisar somente a evolução desta campanha que, apesar de todos os pesares, mobilizou muito os ânimos políticos desta cidade.

Devo confessar-lhes, ainda, que até então, não havia racionalizado o tema de modo a explicar, com profundidade, como Leonardo Quintão chegou ao segundo turno e tornou-se, até uma semana atrás, o candidato favorito nas intenções de voto para vencer o segundo turno das eleições de Belo Horizonte inclusive, exibindo uma enorme margem sobre o seu oponente.

Em algumas postagens que fiz aqui, acabei por dar créditos, erroneamente creio eu, a um artifício emocional que os políticos mineiros gostam muito de explorar e, que a campanha de Quintão lançou mão, os tais ideais libertários de Tiradentes que, supostamente, os mineiros são ungidos.

A exemplo de outras pessoas, julguei a campanha de Lacerda exclusivamente pelo aspecto ideológico e não deste pragmatismo que se apresenta. Como militante de esquerda e, quero reiterar, sem filiação partidária, não acolho esta idéia assim como não o fizeram, tantos outros que compartilham do mesmo matiz ideológico.

Muito impregnado deste preceito, que tem origem da minha não compreensão de como partidos que são diametralmente opostos, do ponto de vista ideológico e programático, podem empreender uma aliança dessa magnitude. Desta forma, passei a observar a campanha de Lacerda e o próprio candidato, com muito ceticismo e pude concluir uma só coisa: Esta campanha não pertence a Lacerda ou a partido algum, mas sim a um interesse além do pleito municipal, obviamente o de Aécio Neves.


O TIRO SAIU PELA CULATRA

O personalismo é uma marca característica do eleitor brasileiro de um modo em geral. Não temos ligações bem definidas com partidos políticos à exceção, claro, daqueles que militam pelas esquerdas, mas, mesmo assim, com forte apelo personalístico.

É aí que Quintão se insere, com uma abordagem direta ao eleitor, muito piegas é verdade, mas passa para uma boa fatia do eleitorado, a sensação de proximidade com o postulante ao poder que é, diferente do perfil programático petista, que já se consolida de uma forma mais institucional, apesar do prefeito utilizar-se, de forma sistemática, dos meios de comunicação de massa para se comunicar com a sociedade.

Embora impregnado com slogans e bordões enfadonhos – dá para fazer, por exemplo - Quintão pautou sua campanha numa abordagem intimista com o eleitor e abordando questões que ele reconhece. Alguns gostam de chamar isto de populismo, mas neste caso, não acredito que os petistas possam lançar mão deste argumento, pois assim é que o próprio PSDB define Lula.

Quintão valeu-se, também, do pouco tempo de horário eleitoral de Jô Moraes, que teve as suas intenções de voto esvaziadas, quando o eleitor percebeu sua inviabilidade eleitoral diante da poderosa campanha de Lacerda.

Foi, neste momento, que houve uma migração significativa das intenções de voto de Jô Moraes para Quintão, enquando a campanha do mesmo se consolidava.

Já a campanha da aliança que, no primeiro turno, deu espetacular ênfase aos feitos de Aécio e Pimentel, numa interminável inauguração da linha verde, fez com que Lacerda ficasse em segundo plano e, portanto, embora o eleitor soubesse de onde ele era não compreendia a que ele veio e, assim, ficou alcunhado como a marionete dos titeriteiros, como muitas vezes me referi a ele.

Como havia um clima hostil já instalado em torno da aliança, principalmente por ter sido concebida, alheia à vontade de grandes lideranças tanto do PT quanto do PSDB, não se viu, de forma contundente, um engajamento voluntário em torno da candidatura de Lacerda.


O SUSTO E A MUDANÇA DE ESTRATÉGIA DE CAMPANHA

A campanha de Márcio Lacerda foi surpreendida nas urnas e, tão logo terminou o primeiro turno, toda a sua coordenação foi reestruturada, tanto na coordenação do marketing quanto na coordenação política. Tudo isto não se deu só pela ameaça de Quintão, mas, também, pelo risco que corria todo o projeto político por trás desta aliança.

Cientes dos erros cometidos no primeiro turno e, digo mais, cientes, também, da fragilidade política do candidato Márcio Lacerda, sua falta de experiência, de empatia e a péssima capacidade de se comunicar, a coordenação da campanha, suponho eu, fazendo uma análise realista da situação, lançou mão dos únicos recursos que dispunha para reverter o quadro que caminhava para um desastre eleitoral sem precedentes.

Neste momento, vendo de uma perspectiva puramente objetiva e, desprezando quaisquer aspectos legais, éticos ou morais, a campanha de Lacerda não tinha outra alternativa senão injetar mais dinheiro na campanha desconstruír a imagem de bom moço de Leonardo Quintão.


OS MÉTODOS REPROVÁVEIS

De maneira alguma eu vou corroborar com os métodos que foram adotados pela campanha de Lacerda e, nem tampouco com a contra ofensiva da campanha de Quintão. Tudo isto demonstra o desrespeito flagrante ao eleitor e à democracia e, mostra a necessidade urgente de se repensar as regras que permeiam todo o processo eleitoral brasileiro.

Não se pode negar que o uso da máquina pública e o seu poder de influenciar e de cooptar foi, escandalosamente empregado na campanha de Lacerda. A participação da imprensa neste contexto teve, como ponto mais indecente, o papel do Jornal Estado de Minas que na edição de sexta-feira, passou um atestado de imoralidade quando transformou a sua capa em panfleto de campanha para Lacerda.

Tudo isto, além de ser uma afronta a moralidade pública, desequilibra a disputa e induz o voto daquele eleitor mais incauto. Estas práticas têm quer ser abominadas pela sociedade, pois aceitá-las como normais só faz, a nós eleitores, meros coadjuvantes, uma burocracia a ser superada por aqueles que tudo fazem para ascenderem ao poder e, dele fazer uso privado e trocar favores com seus financiadores.


LACERDA REVELADO

Chega o dia do debate da Globo e eu esperava, sinceramente, que Lacerda fizesse um encerramento de campanha digno de todo o esforço empreendido por seus apoiadores e, inclusive, o embalo das pesquisas eleitorais e todo o movimento difamatório feito sobre Leonardo Quintão.

E a pesar disto tudo, quem assistiu ao debate não teve como contestar o que ficou evidente. Márcio Lacerda, independentemente de ser eleito ou não neste domingo, demonstrou um surpreendente desconhecimento de questões básicas de gestão e de políticas públicas. Tomou um baile de Leonardo Quintão que, por várias vezes colocou-o em saia justa e, para sair delas, invariavelmente recorria a alguns clichês batidos com o objetivo visível de procrastinar e, em alguns casos, perdendo-se completamento no assunto.

Foi assim quando o tema foi política tributária, transporte, educação, saúde, meio ambiente e geração de emprego. Quintão, para usar um termo que atribuo sempre à Miriam Leitão, derreteu o “eu se como fazer” de Lacerda” que foi criado justamente para contrapor o “isto dá pra fazer” de Leonardo Quintão.

O mais clamoroso foi, ao final do debate, Márcio Lacerda passa atestado de sua fragilidade quando deu a entender, que seu vice-prefeito é um político experiente e com conhecimento profundo dos problemas da cidade, como se isto fosse uma compensação pelo pífio desempenho que teve no debate. Um ato falho.

Prestem atenção, tudo isto são os fatos do debate e, não quero e não posso duvidar da capacidade empreendedora de Lacerda mesmo porquê, este homem possui um patrimônio declarado de mais de 55 milhões de Reais e, quer queira você ou não, não se acumula tamanho patrimônio do nada.


Bom final de semana e bom voto!

7 comentários:

Anônimo disse...

Interessante sua postagem. Bom saber que não sou o único que está pensando nestas questões. Tenho cá minha explicação para a campanha. Se quiser saber fique a vontade em ver meu blog sobre analisando a campanha.

um abraço

Lingua de Trapo disse...

Luiz Cláudio, obrigado pela visita. Passarei a acompanhar seu blog sempre que possível. Realmente é interessante obsevar estes fenômenos. Bom, eu sou administrador, mas defino meu trabalho ou meu hobby aqui neste blog como de um, digamos, observador da paisagem social. Estou ainda tentando definir um rumo para este blog que ontem fez um mês desde a primeira postagem. O importante é que isto tem me motivado a escrever e é um universo que pretendo explorar mais.
Seja bem vindo sempre.
Xará

Anônimo disse...

Você está morando em Minas

Anônimo disse...

VoCê está morando em minas

Lingua de Trapo disse...

Correto, em Belo Horizonte, e vocês? Rio de Janeiro?

Anônimo disse...

Concordo com as suas idéias.
Nunca gostei da forma que os jornais de BH divulgam informação. Também acho que precisamos rever o processo eleitoral, em especial a propaganda política.
Além disso, é necessário estarmos todos atentos ao que o novo prefeito vai fazer. Muitos pontos críticos da política de Belo Horizonte foram levantados. É uma pena que esses pontos não recebam atenção mínima da imprensa.
É também nossa obrigação enquanto cidadãos, acompanhar o exercício do mandato dos nossos políticos. Apesar do baixo nível dessas eleições, pude observar um interesse maior da população, e isso por si só já é bom.
Continue postando.
Grande abraço a todos.

Lingua de Trapo disse...

Obrigado Bruno e espero continuar fazendo postagens que instiguem uma atitude efetivamente cidadã em todos nós. Conta com sua visita em outras oportunidades.

 

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