O seqüestro de Santo André

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Independentemente de ser pai de uma adolescente de 15 anos, sinto-me na obrigação, na condição de cidadão, de dar solidariedade ao drama vivido pelos pais, cujos filhos encontram-se envolvidos no chamado seqüestro de Santo André.

O que me fez escrever esta postagem, de conteúdo distinto do meu blog, é a minha indignação com a visível incompetência da polícia militar do estado de São Paulo e, como não poderia deixar de ser, com a cobertura dada pela imprensa, sempre sob o pretexto ao direito de informação, mas como usual, fazendo uma exploração sensacionalista do caso e expondo sem escrúpulos e sem medir as conseqüências, os nomes dos menores envolvidos e de suas famílias. Eles já estão marcados pelo resto de suas vidas.

A ação do seqüestrador, nesta situação de natureza passional, tem como objetivo, inegavelmente, chamar a atenção para o seu drama ou frustração pessoal. É evidente que neste caso, haja uma espécie de extorsão onde o fim não é monetário, mas sim de atrair compaixão para o seu drama privado. Esta é uma atitude similar à da tentativa de suicídio em público.

O espantoso e também inacreditável foi a polícia permitir, no curso das negociações, o seqüestrador dar uma entrevista exclusiva para uma jornalista da Rede Globo, sabe-se lá com qual pretensão, quando o usual seria chamar um advogado, um delegado, um juiz, um parente com poder de influir ou, até de um religioso.

É evidente que esta atitude não foi para facilitar a negociações, mas sim para atender a sede pela exploração da desgraça humana que tem sido, sistematicamente, utilizada pelos meios de comunicação com objetivos puramente comerciais.

Digo isso com muita convicção, pois o histórico das coberturas dadas pela mídia nestes casos mostra, tão somente, a sede desenfreada pela audiência, fazendo toda espécie de especulação, pré-julgamentos, execração pública e condenações, tudo isto à margem das instituições do estado, da lei e das prerrogativas constitucionais sobre os direitos e garantias individuais do cidadão.

Lembrem-se, nos sequestros e crimes cometidos contra os ricos, nem as vítimas e tampouco os familiares, são admoestados por esta mesma mídia.

Como se não bastasse este descalabro, a polícia militar, à revelia de um dos pais, envolve uma menor nas negociações, permitindo o seu retorno ao cativeiro e, pressupondo que a ação da menor teria efetividade nas negociações fez a mesma, refém por mais uma vez. Pergunto-lhe então, que raios de “especialista” em negociações é este débil mental?

Depois de transcorridas quase 93(noventa e três) horas, desde o início deste imbróglio recheado de trapalhadas, eu pergunto aos leitores:
- O Lindenbergue, o tal seqüestrador, está sem dormir durante todo este tempo?
- A polícia não tentou alguma técnica de imobilização ou sedação através do fornecimento de comida e água?
- A polícia não encontrou outros meios técnicos de se fazer escuta e monitoramento eletrônico do apartamento?
- Onde está o Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo?
- Onde está o Comando de Policiamento da Capital?
- Onde está o Juizado da Infância e da Juventude do Estado de São Paulo?
- Onde está o vigoroso e eficiente Governador do Estado de São Paulo?
- Onde está a OAB e toda aquela horda de “especialistas” que dá plantão nos telejornais para ilustrar, tecnicamente, suas reportagens?
- Onde estão todos os iluminados que fazem de São Paulo, como adoram afirmar, a maior, a mais proeminente, a mais desenvolvida, a mais rica e, sei lá mais o quê cidade brasileira.

Finalizando este assunto, o que eu realmente anseio é:

1o.) Que surja neste cenário, uma autoridade competente para destituir quem estiver no comando desta trapalhada de operação e, que dê cabo ao sofrimento das pessoas que, de fato, estão no centro deste drama.

2o.) Que alguém da mídia e, principalmente, que possua caráter, retrate, a bem do verdadeiro interesse público, a incompetência e a negligencia do aparelho estatal e de suas respectivas autoridades, deixando o cidadão comum à mercê da própria sorte e da vigarice da maioria dos meios de comunicação.

Pergunto-lhes então, precisa ser dito alguma outra coisa?

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