MINAS GERAIS, UM ESTADO EM PERMANENTE ESTADO DE CONSPIRAÇÃO

|

Corro um sério risco de ser desgraçado por insultar figura de tamanho vulto na história de Minas Gerais e do Brasil. Por aqui é quase uma ofensa religiosa, uma blasfêmia e, guardando as devidas proporções, temo até a decretação de uma "fatwa" à mineira, assim como aquela que levou o escritor indiano Salman Rushdie, por anos a fio, a manter-se, além de exilado, também escondido, temendo a execução ordenada pelo então líder espiritual do Irã, o aiatolá Khomeini, que não bastando a famigerada fatwa, pôs prêmio por sua cabeça.

Pois bem, mesmo não tendo qualquer pretensão de levar uma vida em desgraça como a que levou Rushdie e tampouco fazer desta postagem uma espécie de versão de "Os Versos Satânicos", não vou me furtar do direito de mostrar aos leitores do Língua de Trapo que esta história de inconfidência mineira não passou de mais um belo golpe publicitário e de uma patriotagem cujos interesses velados não foram outros senão os econômicos.


ACORDA MINAS, NOSSO HERÓI FOI UM LARANJA!

Mas antes de chegar à questão que hoje me interessa, vou compartilhar com vocês trechos de uma postagem lambida do site Alma Carioca, que apresenta interessantes conclusões sobre diversos personagens da inconfidência mineira tiradas da obra do historiador inglês Kenneth R. Maxwell, um dos mais importantes brasilianistas da atualidade, especialista em História Ibérica e no estudo das relações entre Brasil e Portugal no século XVIII. Para ele, a rebelião em Vila Rica foi nacionalista, com conteúdo ideológico, econômico e social bem mais profundo que a história tradicional registra. O romanceamento da figura de Tiradentes levou ao esquecimento e minimizou o confronto entre grupos de poder instalados em Minas Gerais, no século XVIII e, os colonizadores portugueses, o que, de certa forma, resultou numa visão incompleta da Inconfidência Mineira e, eu diria, premeditadamente manipulada.


O melhor estar por vir, no final desta postagem, mas antes leia com atenção algumas das conclusões de Maxwell, que foram relacionadas pela professora Beth Gemmal para a crônica de Paulo Afonso no Alma Carioca.

1. A Inconfidência era um movimento da elite mineira, todos donos de minas, escravos e fazendas (palavra que naquela época também significava dinheiro). Por isso, jamais se cogitou ali em libertação dos escravos, apenas de república. Todos ricos e cultos, entre eles famosos poetas do Arcadismo, como Tomáz Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto. Esta não era nem de longe a situação do nosso querido alferes. Logo, você pode concluir que Tiradentes jamais poderia ser o chefe. (ERA UM LARANJA)

2. Este era, na verdade, Tomáz Antônio Gonzaga, até então Ouvidor da Capitania, e português de nascimento. Cláudio Manoel da Costa também era um homem influente, juiz, com muito prestígio político e que circulava nas altas rodas, inclusive no Palácio do Governador, o Visconde de Barbacena. Os dois escreveram juntos, as famosas Cartas Chilenas. Estas, que são consideradas uma pérola do Arcadismo, circulavam pelas Minas como um folhetim, os autores usaram pseudônimos, Critilo e Doroteu (este sendo o Gonzaga, já que era noivo de Maria Dorotéia de Freitas, a quem dedicou a obra “Marília de Dirceu“). Tratava-se de cartas que um, que estaria no Chile, escrevia para o outro, no Brasil, contando tudo que se passava no “Chile”, falando mal do governo e, tudo o que dizia, era exatamente o que estava acontecendo em Minas. Neste “Chile”, quem governava era o Fanfarrão Minésio (Barbacena), que era achincalhado o tempo todo. Esta publicação clandestina fez mais sucesso naquela época que novela da Globo.

3.
Por que um português trairia sua própria pátria e colocaria em risco sua situação privilegiada, seu casamento que se aproximava? Por que os homens ricos se meteriam numa revolução? Temos que ver a situação econômica da capitania: o ouro começava a escassear. Portugal não aceitava isso e dizia que tudo era fruto do contrabando. Assim, mudou a maneira de cobrar o imposto. Este era chamado o quinto (20% do ouro extraído). Só que, com a escassez, Portugal resolveu colocar uma cota mínima de 15 mil arrobas anuais. Esta cota deveria ser preenchida de qualquer maneira. Se o quinto não cobrisse a cota, os habitantes teriam que completá-la com seus bens pessoais. A cobrança era chamada de “Derrama“.

4. Os impostos estavam atrasados. Os ricos, naturalmente eram os maiores devedores. Os inconfidentes estavam endividados até os dentes (neste item, Maxwell usa e abusa da estatística, mostrando a lista das dívidas de cada um). Fazer a independência significaria, antes de tudo a anulação destas dívidas, além de se tornarem independentes (como dizia o velho Karl Marx, por trás de todo fato histórico há sempre um motivo econômico…).
E, naturalmente, eles seriam os futuros governantes.

5.
A Inconfidência tinha como foco a capitania de Minas Gerais. Mas o movimento tinha que contar com o apoio da capital, por isso, o Rio de Janeiro estava incluído nos planos, numa segunda etapa, logo a seguir, mesmo porque, precisavam de um porto de mar para as exportações. Depois, alcançaria o resto do Brasil, mas os planos neste sentido eram vagos, mais uma coisa como: o movimento vai automaticamente se espalhar…

6. O dia escolhido para a eclosão da revolta era o dia da “Derrama“, que ninguém sabia dizer quando seria. Daí a senha que usariam : “tal dia é o batizado“.

7. E Tiradentes, onde se encaixa aí, quais os seus motivos? Ele não era um mercenário. Era pobre, um simples alferes, posto que hoje não existe mais no exército (algo como um sub-oficial, entre sargento e tenente). Ganhando pouco, fazia um “bico”, arrancando dentes… Como todo colono (na época, palavra que designava o habitante da colônia), tinha que pagar impostos. Como brasileiro sentia-se explorado, as riquezas do país sendo drenadas para a metrópole. Este sentimento era geral. Junte-se a isso o fato de ter sido preterido numa promoção que tinha como certa, para um apadrinhado. Como podemos notar, a corrupção já vem de longe em nosso Brasil. Este acontecimento foi crucial para o seu envolvimento na revolta. Após a vitória, poderia ser até General, certo? Mas ele tinha uma função importante: o acesso às tropas. Era muito bem visto e querido pelos colegas. Enfim, o homem ideal para a mobilização militar. Transitava num ambiente crucial para uma revolta, ao qual Gonzaga e seus amigos não tinham acesso. Por isso precisavam dele. Quando foi preso, estava no Rio tentando obter o tal apoio. Silvério era um coronel, daí estar bem informado do paradeiro do alferes.

8. Agora, vem o desfecho: Barbacena descobriu a conspiração por outros meios que não a denúncia de Silvério (isto você lerá no livro), mas precisava de uma comprovação escrita. Chamou Silvério ao palácio e fez uma proposta: alegando que ele estava perdido, pois o governo já sabia de tudo, se topasse escrever a carta com a denúncia teria suas dívidas perdoadas e sairia livre, caso contrário, seria preso com os outros. A única coisa que Barbacena não sabia era quando a revolta eclodiria e disto Silvério o informou. Também veio ao Rio achar Tiradentes e contar ao governo onde ele estava. Mas, tudo isso, depois da conversa com Barbacena. Não acho que ele era um santo, mas é uma situação muito diferente daquele traidor que dedura gratuitamente seus companheiros. Também é certo que recebeu dinheiro, mas o contexto é o mesmo. E, teve que fugir do Brasil, pois estava com sua cabeça a prêmio entre a população.

9. Há um personagem desconhecido nisso tudo: o Embuçado, uma pessoa que, quando Barbacena descobriu o golpe saiu, na calada da noite, avisando aos inconfidentes que fugissem pois o plano estava descoberto. Bateu de porta em porta das pessoas certas, estava envolto numa capa escura que lhe cobria o rosto. Nunca se soube quem era. Mas, claro está que veio de dentro do palácio, o que comprova mais uma vez que os inconfidentes tinham amigos poderosos. Cecília Meireles, no seu livro “O Romanceiro da Inconfidência“, que é imperdível, dedica um belo poema a este personagem. Alguns conseguiram escapar, mas Barbacena sabia muito bem a quem procurar.

10. Os presos vieram para o Rio mas, ao serem presos, ficaram ainda uns dias nas masmorras em Vila Rica. Cláudio Manoel da Costa ficou preso no Palácio e, dentro de dois dias foi encontrado enforcado na cela que ocupava. Maxwell descobriu que ele “foi suicidado” ( método que também, como vemos, já é antigo no Brasil, mas que continuou fazendo muito sucesso nos séculos posteriores, principalmente entre as ditaduras de Getúlio e na militar). O historiador também descobriu o como e o porquê, através de documentos que cita no livro: ele era, como já mencionei, pessoa que tinha acesso aos bastidores da política. Sabia de todas as falcatruas e roubalheiras de Barbacena, que era um ladrão do erário público, entre outras qualidades. Por isso, Barbacena o temia, razão pela qual prendeu-o no palácio. Cláudio Manoel o ameaçou, disse que acusaria publicamente Barbacena durante o processo e quis chantageá-lo: a liberdade para os revoltosos, em troca da suspensão da revolta e do seu silêncio. Barbacena o silenciou. Foi na realidade envenenado.

11. O processo durou 3 anos. Os principais acusados eram 10, entre eles, Tiradentes. Todos negaram tudo, menos ele. Todos receberam pena de morte. Todos tiveram suas penas modificadas para degredo, alguns nas colônias portuguesas da África , os padres nos conventos portugueses. Só Tiradentes foi morto. Para servir de exemplo. Imputaram-lhe a chefia do movimento, coisa absurda. Mas, como diz o dito popular, quem não tem um padrinho (e principalmente, dinheiro), morre pagão. Ele nada tinha. Pagou o pato, mas foi íntegro até o fim. E os outros, quanto dinheiro rolou por debaixo dos panos?

Gonzaga foi para Moçambique por 10 anos, mas a pena era de prisão aberta, ele só não podia sair do país. Exercia a advocacia, casou com uma rica herdeira com tem teve filhos e nunca mais voltou ao Brasil, mesmo depois da pena terminada, deixando Dorotéia plantada (morreu velha e solteira).

E VIVA A HISTÓRIA DO NOSSO BRASIL!


BOMBA, BOMBA, BOMBA!

Para arrematar, o prato principal desta postagem, mais uma inconfidência, desta vez envolvendo o Prefeito Laranja de Belo Horizonte, o ex Ministro Walfrido dos Mares Guia, o jornal ESTADO DE MINAS e o Ministério Público, mutreta que vem sendo denunciada a muito tempo pelo Novo Jornal, o nosso Silvério dos Reis da atualidade. Veja caro leitor e cara leitora e, tire suas próprias conclusões sobre as verdadeiras razões que fazem Minas Gerais gozar de medonha reputação.


A quem interessa o desgaste da UFMG?
14/01/2009

Reitoria e Fundação da UFMG estão debaixo de fogo cerrado pelo grupo empresarial ligado ao prefeito de Belo Horizonte

BHTEC: Parque Tecnológico da UFMG Parte da sociedade civil mineira assistiu espantada nas últimas semanas, a introdução no noticiário, de apenas um veículo de comunicação da capital mineira, a cobertura de denúncias relativas à UFMG.

Segundo informação do próprio veículo, o mesmo circula em todo o Estado de Minas Gerais, (sua tiragem não foi dita), tornado desta forma, no mínimo desproporcional, o espaço dedicado ao assunto.

No objetivo de prestigiar a pauta do veículo, mantendo seu leitor informado, o Novojornal foi em busca de mais informações. O que encontramos foi a adoção de um modelo muito praticado pelo veículo no período do golpe de 1964, onde ele denunciava. Delegados e promotores fundamentados na notícia abriam inquéritos, para “investigar” e, na seqüência, o jornal repercutia a investigação, não sendo rara a condenação de diversos acusados, utilizando-se como prova a notícia do jornal.

Desnecessário dizer que este meio de comunicação defendeu e foi um dos sustentáculos da repressão ocorrida na época militar. Porém, em pleno regime democrático, voltar a estas práticas em flagrante desrespeito ao Estado Democrático de Direito é um absurdo.

Neste sentido, o Novojornal sentiu-se na obrigação de noticiar o que está por traz desta cobertura feita pelo outrora “grande jornal dos mineiros”.

Depois de anos de investimentos públicos, o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTEC) construído na Pampulha, em parceria entre a Prefeitura, governo de Minas e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), virou realidade, principalmente após projeto de lei 1.640/08, de autoria do Executivo, aprovado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Google

O pólo de tecnologia fica em terreno da UFMG, com 535 mil metros quadrados, na Avenida Carlos Luz (antiga Catalão), em frente à Usiminas, na Pampulha. A previsão é de que atraia cerca de R$ 500 milhões em investimentos nacionais e estrangeiros, nos próximos dez anos.

O Centro de Desenvolvimento da Google é uma das empresas estrangeiras que deve ser instalada no local. O governo de Minas ficou encarregado de construir o prédio administrativo do parque, estimado em R$ 20 milhões. A Prefeitura arcou com a obra de terraplenagem e a UFMG, dona do terreno, concedeu permissão para a utilização da área.

O BHTEC começou a ser idealizado em 1992/96, na gestão do prefeito Patrus Ananias (PT), por meio do então secretário municipal de Indústria e Comércio, Tarcísio Caixeta. Célio de Castro (PSB) deu continuidade ao projeto, em 1996/2000 e 2000/2004, o mesmo acontecendo com Fernando Pimentel, em 2004/2008.

Mal se inicia e a disputa pelo comando e destino do BHTEC já faz suas primeiras vítimas, diante da tentativa dos gestores da UFMG e da FUNDEP, em manter o controle do centro e principalmente sua finalidade.

O motivo da discórdia chama-se: FUNDOTEC, no qual empresas do atual prefeito de Belo Horizonte, e do ex-ministro Walfridos dos Mares Guia são cotistas. Este fundo, administrado pela Fir Capital, quer ver o BHTEC não como um grande centro de pesquisa, objetivo dos gestores da UFMG, quer que o mesmo seja privatizado, transformando-se em um centro de negócios, “fugindo do objetivo da Universidade”, defendem os contrários a esta tese.

Em vez de trazer perante a sociedade e a comunidade acadêmica, com clareza, o que realmente está ocorrendo é que o grupo de empresários preferiu “lançar mão” de um veículo de imprensa da capital para pressionar, noticiando ocorrências de 2002, já amplamente discutidas e solucionadas.

A ambição deste grupo de empresários não tem limites”, atacam seus adversários. Fundamentando-se em antecedentes, principalmente depois de terem os mesmos se
apropriado de diversas pesquisas da UFMG, para, em seguida, vender as mesmas e, o pior, desnacionalizá-las.

A seguir, repercutindo o fato, vem ao noticiário o Ministério Público dizendo que vai investigar o que já é investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

É incrível como os cacoetes do período de exceção permaneceram arraigados nas diversas instituições mineiras.

Investigações do Ministério Público deveriam existir, porém para apurar as práticas adotadas pelos empresários contra o patrimônio público.

0 comentários:

 

©2009 Língua de Trapo | Template Blue by TNB