Parece não haver ninguém no mundo. Um silêncio espantoso. Como o silêncio que antecede uma catástrofe. Há sempre uma ameaça, mesmo no silêncio.
>> a arte de produzir efeito sem causa - mutarelli, l. [p.130]
Fui dormir ontem tentando entender o significado do silêncio das organizações Globo diante de mais uma pesquisa da CNT/Sensus. Teria sido por azia, como aquela que diz ter o presidente Lula em relação ao que se fala e escreve na nossa patriótica imprensa? Um efeito tão devastador como o de comer um sanduíche de sardinha em lata, com pepino cru e num pão dormido? Ou será o silêncio parte de mais uma afrontosa estratégia para golpear a democracia no Brasil?
Pelo recrudescimento das manchetes de ontem e hoje, sinceramente, temo acreditar em todas essas coisas. Mas creio que devemos fazer algo a respeito, pois essa gente está passando dos limites e são, ao meu ver, inimigos declarados do estado de do povo brasileiro.
Sirvo-lhes, a seguir, a íntegra da postagem de hoje de Eduardo Guimarães, do Cidadania.com, que faz sempre uma leitura muito lúcida do modus-operandi dessa quadrilha.
Quem brinca com fogo...
Peço aos que ainda nem se recuperaram da ressaca gerada pelos porres que tomaram para comemorar a alta da aprovação de Lula e de seu governo contra todas as previsões e em pleno agravamento da crise no Brasil que me perdoem por lhes interromper a comemoração, mas a notícia que tenho para lhes dar não é boa e tem que ser dada logo. Se servir de consolo, porém, tampouco é boa para os que encheram a cara para afogar as mágoas por ainda não ter sido desta vez que Lula “se ferrou”.
Cumpre-me, por dever cidadão, trazer-lhes a má nova, porém torcendo para que as lendas sobre mensageiros portadores de más notícias que são sacrificados pela dor que trouxeram não sejam mais do que isso, lendas. Quero, corajosamente, informar que aconteceu o que eu mais temia: a mídia se revoltou com a aprovação recorde de Lula depois de ter se esforçado tanto para desmoralizá-lo, e decidiu partir para o tudo ou nada.
A reação da mídia foi a pior possível e eu já dizia, dias atrás, o medo que tinha de a popularidade de Lula não cair na próxima pesquisa. Eu temia a reação da mídia.
Assisti a cobertura sobre a popularidade de Lula nos telejornais da noite da Gazeta (com a excelente jornalista Maria Lidya Flandoli), da Bandeirantes, da Record, da Globo e da Cultura. De todos, só a Globo não deu a notícia sobre a alta da popularidade de Lula e de seu governo, e só o telejornal da Cultura imprimiu viés político à notícia, ironizando-a e contrapondo-a à análise do presidente da CNI prevendo queda da popularidade presidencial mais adiante.
Contudo, apesar de a manipulação nos telejornais ter se restringido ao cabeça da imprensa golpista (a Globo) e à tevê que os paulistas otários sustentam para Serra fazer política (a TV Cltura), os portais de internet enlouqueceram. UOL, G1 e IG, ao menos, passaram o dia masturbando a crise, a crise e a crise. Fazia uns dois dias que tinham diminuído o bombardeio, mas pareceu-me que ficaram enraivecidos.
Ah, os telejornais também fizeram questão de dar ênfase ao catastrofismo e ao pessimismo, apesar de quase todos terem tratado a pesquisa da popularidade presidencial com sobriedade...
Nas versões dos analistas, será praticamente impossível Lula escapar da queda nas pesquisas se a crise continuar se agravando. Não estou tão certo disso, porque esses analistas desprezam por completo a hipótese de que a sociedade saiba, com todas as letras, que a mídia tenta alarmar os agentes econômicos para agravar a crise e prejudicar Lula. Acho que até o mais ingênuo intui isso.
Mas façamos uma concessão à saudável prática da dúvida ante o incerto e concedamos mérito à teoria sobre a inevitabilidade da queda da popularidade do presidente diante do aprofundamento da crise – com ou sem alarmismo da mídia.
Sem alarmismo, pode-se dizer que a crise está se agravando rapidamente, com forte retração nas exportações e na atividade econômica – e, por extensão, no nível de emprego. Com alarmismo, prefiro postergar a análise, de tão feia.
A mídia não faz concessão às poucas boas notícias que têm surgido, apesar de que todos os que se informam já sabiam em dezembro que janeiro, fevereiro e março produziriam os tão almejados (pela direita midiática) indicadores negativos que finalmente desgastariam a popularidade presidencial. Assim, não se sabe ainda se esses tímidos indicadores de recuperação na atividade econômica se converterão em tendência daqui a algumas semanas.
De qualquer maneira, se esse alarmismo midiático continuar fazendo com que qualquer reação dos agentes econômicos seja postergada, logo, logo talvez essa reação não adiante mais.
É aí que digo que quem brinca com fogo acaba se queimando. Deveriam olhar essa tão almejada crise por um prisma não-político, pois o que acontecerá no campo de visão de quem olhar por esse prisma terá desdobramentos políticos favoráveis ao brincalhão, mas no campo prático os beneficiados pela brincadeira poderão se ver com um abacaxi gigantesco nas mãos, ou seja, uma crise de segurança pública sem precedentes no Brasil.
Essa gente deveria agradecer a Lula. Quem viu o que aconteceu naquela favela paulistana nos últimos dois dias, uma favela tida como a de menor criminalidade no país, deveria agradecer ao presidente por ser essa camada de amortecimento entre as massas empobrecidas e as elites abastadas, pois estas, cada vez menos, estão conseguindo se proteger dos crescentes ataques a condomínios de luxo, por exemplo, a despeito de sistemas sofisticados de segurança, muros altíssimos etc.
A má notícia, pois, é a de que eu acho que essa gente tem razão, que o agravamento da crise pode, sim, derrubar a popularidade de Lula – apesar de que, como já disse, o presidente vem teimando em contrariar a lógica –, mas acho que para a popularidade dele cair até em sua reserva eleitoral, composta pelos mais pobres, terá que haver uma forte insatisfação social, uma forte percepção de piora nas vidas desse segmento tão esmagadoramente majoritário da sociedade que sustentou o presidente nos momentos mais difíceis, e que pode eleger Dilma em 2010.
Sim, a crise, para dar chance a Serra, tem que pegar os mais pobres num país em que as tensões sociais só não se agravam mais devido às “esmolas” que a direita midiática diz que Lula paga a eles para lhes comprar os votos.
Essa gente brinca com fogo porque acha que o aparato repressor do Estado, que sempre manteve a desigualdade hors-concours do Brasil, pode dar conta do recado. Essa gente não olha para Paraisópolis, para o oficial da polícia do Serra que, momentos depois de dizer que “tudo estava e sempre esteve sob controle”, foi baleado na barriga e saiu da favela para o hospital embasbacado com quão pouco controle as forças repressoras do Estado exercem hoje sobre a cidade mais rica e importante do país.
Quem tiver um pouco de memória e se lembrar de 2006 na Tucanolândia – que, para quem não entendeu a piada, é a cidade de São Paulo –, saberá como um bando de criminosos organizados conseguiu pôr a cidade de joelhos, com toque de recolher oficioso, com rajadas de metralhadora diante de civis embasbacados em pleno dia por toda cidade, com os ricaços fugindo de helicóptero até “as coisas voltarem ao normal”.
É por essas, por outras e por mais algumas que eu imploro aos Marinho, aos Civita, aos Frias, aos Mesquita, aos Rossis, aos Mainardis, às Cantanhêdes, aos Azevedos, aos Mervais, aos Bonners e às Fátimas, enfim, a todo o PIG que, pelo amor aos seus filhinhos, netinhos e bisnetinhos, pare com isso!, deixe o jogo político acontecer sozinho, deixe a crise ser combatida pelo governo, pois ela é tão forte que pode pegar todo mundo, nem que seja num semáforo numa noite fria e escura e num futuro não tão distante.
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