LIÇÕES DE COMO TRANSFORMAR A MAIS ALTA CÔRTE DO PAÍS NUM PUTEIRO ONDE OS PODEROSOS SE ESBALDAM

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Por Mário Augusto Jakobskind
Publicada em: 01/03/2009

NA LÓGICA DA PROPRIEDADE E DO CAPITAL

E começou o ano civil de 2009. Muitas águas vão rolar e finalmente se verá até que ponto a crise econômica vai provocar ainda maiores estragos do que já provocou até agora. Os eternos defensores do neoliberalismo, os tais colunistas de sempre, que até há pouco defendiam ardorosamente o Estado mínimo, agora são os primeiros a saudar a presença do Estado para salvar quem está afundando. Esta é a tal lógica da propriedade e do capital, que se manifesta das mais diversas formas.

Um dos maiores exemplo desta lógica é nada mais nada menos do que o Ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, cargo que jamais poderia estar ocupando, pois a sua prática parcial em favor da propriedade e do capital não se coaduna com o posto.

A mais recente defesa dessa lógica protagonizada pelo Ministro do Supremo nomeado na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso foi a sua declaração condenando de antemão o MST em um grave incidente em Pernambuco que resultou em quatro mortes. Diante das câmaras da Globo, em plena quarta-feira de cinzas, Mendes vestiu a fantasia fundiária da Vênus Platinada, como também é conhecida a emissora televisiva de maior audiência no país, para também condenar o pagamento de subsídios legais pelo Poder Público à referida entidade que há mais de 25 anos luta pela reforma agrária e tem vários núcleos produzindo. O Estado brasileiro, independente de quem seja o ocupante do Palácio do Planalto, cumpre a função constitucional de colaborar com entidades que produzem na área da agricultura. Mas Mendes não está nem aí, prefere se manifestar seguindo o mesmo ideário da TV Globo e opina sobre um fato com o objetivo de colocar o governo atual no banco dos réus.

Antes de qualquer coisa, o presidente do STF já se posiciona contra o MST, satanizando-o e o julgando através de um incidente ainda não totalmente esclarecido, em poucos segundos jogando o movimento na vala do crime comum. E aí os papagaios de pirata da mídia hegemônica saem repetindo a receita. Segundo dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra), de 1985 a 2007, foram cerca de 1500 assassinatos de trabalhadores rurais, muitos deles mortos enquanto defendiam seu direito à terra, o que Mendes não leva em conta pois o Ministro defende a propriedade e o capital e ignora que a violência sempre prejudicou o MST.

Não é à toa que outras decisões polêmicas protagonizadas por Gilmar Mendes são até hoje questionadas e colocadas em dúvida jurídica, como a que em poucas horas concedeu habeas-corpus ao banqueiro Daniel Dantas, considerado um “bandido” pelo delegado Protógenes Queiroz. Por estas e muitas outras, Gilmar Mendes desabona a instância máxima da Justiça brasileira. É o caso de se perguntar se quando Mendes vota em algum processo ou julga a concessão de habeas-corpus ele se posiciona de acordo com trâmites legais ou decide movido por outros motivos? São perguntas necessárias, sobretudo no momento em que o presidente do STF se apresenta em público com uma sentença definitiva e que é utilizado nos mais variados espaços para aprofundar o esquema de criminalização do MST e demais movimentos sociais brasileiros.

Que a TV Globo, que representa interesses econômicos que não aceitam qualquer tipo de organização popular faça isso, não chega a surpreender, agora que o Ministro que preside o STF repita o esquema, significa realmente um retrocesso. A figura de Mendes remete a decisões que mancharam definitivamente o STF, como em 1936 ao aprovar a extradição de Olga Benário, judia e comunista, grávida, para a Alemanha, onde acabou morrendo na câmara de gás de um campo de concentração.

Em suma, desta vez, enquanto o samba atravessava a avenida, a justiça, via STF, desafinava, ao seu presidente se alinhar ao bloco da conveniência do mais forte, que tem como porta-estandarte a TV Globo.

A mesma lógica de Gilmar Mendes foi utilizada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul ao ordenar o fechamento de oito escolas para crianças do MST que funcionavam regularmente há 13 anos, inclusive seguindo o currículo da Secretaria de Educação gaúcha, que informou que não poderá arcar com o deslocamento das crianças para outras escolas na área rural. Quer dizer, as crianças ficarão sem estudar por culpa do Ministério Público e da governadora Yeda Crusius, do PSDB.

Os argumentos apresentados pelo Ministério Público, através do Procurador da Justiça Gilberto Thums, não só não resistem a menor análise como remetem a um dos períodos mais obscuros da história brasileira, a da ditadura instalada a partir de abril de 1964 e que estendeu a março de 1985.

Thums, que joga na mesma lógica de Mendes e de Yeda Crusius da propriedade e do capital, usa uma terminologia dos tempos da Guerra Fria, que se esperava superado pelos novos tempos em que vive o Brasil. Para a saúde da democracia no país, é urgente que se encontre uma forma de se fazer uma revisão profunda do Poder Judiciário e evitar aberrações do tipo Gilmar Mendes.

ATUALIZAÇÃO (02-03-09) Alexandre Garcia, um dos colunistas de sempre que ocupa espaço na TV Globo há muitoS e muitos anos, pelo menos depois de deixar o cargo de assessor de imprensa do último general de plantão da ditadura, João Batista Figueiredo, volta e meia é convocado para comentar sobre as mais variadas questões. Nesta última segunda-feira, Garcia atacou ferozmente o MST fazendo eco ao Ministro Gilmar Mendes.

Alexandre Garcia, useiro e vezeiro em tomar partido em favor dos poderosos, desta vez manifestou sua indignação pelo fato do MST “invadir” (ele sempre usa este verbo e não ocupar) uma fazenda que tem como sócio nada mais nada menos do que Daniel Dantas.

Garcia bateu recorde em matéria de defesa incondicional dos proprietários da fazenda no Estado do Pará chegando a comprar a ação do MST com a de “grupos de extermínio” e citou mais uma vez o que tinha dito Gilmar Mandes.

O conservadorismo não esconde a sua fúria contra o MST, que há muitos e muitos anos é criminalizado pela TV Globo e demais espaços midiáticos da Organização do mesmo nome. Vale tudo para indispor os movimentos sociais organizados junto à opinião pública. É tão visível o preconceito, que parte dos telespectadores já percebeu que a cobertura do campo brasileiro dá sempre espaço para os representantes dos grandes proprietários rurais. Até porque, diga-se de passagem, as Organizações Globo têm interesses próprios no agro-negócio, da mesma forma que órgãos de imprensa como O Estado de S.Paulo, entre outros.

3 comentários:

Felipe Augusto disse...

Como diria o Planet Hemp, É o comando delta!

Unknown disse...

Luiz,demais esta publicação. Parabéns! Mário Augusto deve se cuidar. O carinha do supremo que decidiu ser deus, não perdoa. Abs Yvy

Lingua de Trapo disse...

Obrigado a todos pelos comentários. Peços desculpas por só ter podido responder hoje.

 

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