Nada melhor do que ampliar a nossa visão sobre as coisas e poder enxergar, à luz de novas perspectivas, tão recorrentes inquietações. Acredito que o bispo de Olinda, por fim, tenha feito uma coisa boa, deixar a todos nós muito indignados. Eu é que não vou excomungá-lo, pois acredito que ele já viva no pior dos mundos e, talvez nem saiba disso.
Diante de tão inquestionável fato, eu me rendi ao excelente texto que a Maria Christina Montenegro produziu para o seu blog, o Curiosa Identidade, que agora compartilho com vocês. Ela é essa aí na foto, no meio da selva. Para saber mais sobre ela, visitem o seu blog, pois assim como eu, creio vocês também gostarão.
Da dignidade de ser excomungado
Diante do porte da irresponsabilidade do posicionamento deste segmento da instituição Igreja Católica, atual ue lamentavelmente no poder decisório sobre ela, o único movimento digno é exigirmos nossa própria excomunhão, mesmo que não sejamos católicos. Não é questão de adesão religiosa; é questão de adesão a idéias; idéias sobre ética, liberdade, vida, morte, vingança, perdão, alteridade, moral e Lei, cidadania....
Ato Político? Ou "apenas" Ato Ético?
Como é possível "vestirmos a camisa" oferecida por essas criaturas, e deitarmos a cabeça no travesseiro em paz com o Cosmos à noite? Nós NOS IDENTIFICAMOS com isso que está aí?...
Não bastassem:
- os criminosos episódios da inquisição;
- o pisoteamento da cultura alheia pela suposta "catequese";
- a omissão diante do holocausto na segunda guerra;
- idem diante das frequentes situações contemporâneas, em guerra (ou não!), de "limpeza
étnica";
- o atuante lobby no Vaticano para proteção jurídica sistemática aos "religiosos" abusadores
sexuais em todo o mundo;
- o combate à camisinha mesmo diante do alastrar dos casos de aids;
- a doentia interdição ao casamento dos padres;
- as frequentes decisões homofóbicas (embora seja tão evidente o contingente gay entre os padres - nada contra, aliás!), agora isso:
"Estupro é crime menor que aborto" - o que significa, inclusive, uma autorização
institucional ao estupro!
QUE PRESENTÃO AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, NOS FOI DADO, HEIM???!!!...
Se a sociedade civil não reaprender a se organizar, são seus próprios membros que estarão ESCOLHENDO caminhar para a pior espécie de barbárie: aquela autorizada institucionalmente.
Em tempo: homens também são frequentemente estuprados, com sequelas tão (ou mais) tenebrosas, na medida em que o silêncio que lhes é violentamente imposto (exigência de silêncio da qual a mulher escapa) muitas vezes impede a elaboração profunda do evento e suas dores.
Aborto?
Para quem passa por ele, legal ou não, é uma dor terrível. Dor que às vezes precisa ser escolhida; PODE ser escolhida; o DIREITO de escolhê-lo é de fôro íntimo, e as leis (SECULARES, É ÓBVIO) vão desenhando o perfil ético de sua flexibilidade.
ALGUÉM AQUI CONHECE ALGUMA MULHER QUE ALGUMA VEZ TENHA DITO PARA ALGUÉM:
-"ESTOU PLANEJANDO MINHAS FÉRIAS; JÁ ESCOLHI MEU PROGRAMA: VOU
FAZER UM ABORTO SENSACIONAL! NÃO VEJO A HORA DE FAZÊ-LO!"
Duvido.
Mas tenho certeza que alguém já ouviu muitas dizerem:
-"Eu até gostaria de ter essa criança, mas falei com o pai, e ele disse 'não'; não tenho como assumí-lo sozinha, então serei obrigada a..."
Curiosamente, diante da criminalização ainda vigente, no caso de uma clínica (por exemplo) receber uma batida policial, são indiciadas as mulheres que lá estão, e os médicos; os milhares de HOMENS QUE ABORTARAM QUANDO SIMPLESMENTE USARAM TRÊS LETRINHAS AO DIZER "NÃO", não são "incomodados"!...
Ato Político? Ou "apenas" Ato Ético?
Como é possível "vestirmos a camisa" oferecida por essas criaturas, e deitarmos a cabeça no travesseiro em paz com o Cosmos à noite? Nós NOS IDENTIFICAMOS com isso que está aí?...
Não bastassem:
- os criminosos episódios da inquisição;
- o pisoteamento da cultura alheia pela suposta "catequese";
- a omissão diante do holocausto na segunda guerra;
- idem diante das frequentes situações contemporâneas, em guerra (ou não!), de "limpeza
étnica";
- o atuante lobby no Vaticano para proteção jurídica sistemática aos "religiosos" abusadores
sexuais em todo o mundo;
- o combate à camisinha mesmo diante do alastrar dos casos de aids;
- a doentia interdição ao casamento dos padres;
- as frequentes decisões homofóbicas (embora seja tão evidente o contingente gay entre os padres - nada contra, aliás!), agora isso:
"Estupro é crime menor que aborto" - o que significa, inclusive, uma autorização
institucional ao estupro!
QUE PRESENTÃO AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, NOS FOI DADO, HEIM???!!!...
Se a sociedade civil não reaprender a se organizar, são seus próprios membros que estarão ESCOLHENDO caminhar para a pior espécie de barbárie: aquela autorizada institucionalmente.
Em tempo: homens também são frequentemente estuprados, com sequelas tão (ou mais) tenebrosas, na medida em que o silêncio que lhes é violentamente imposto (exigência de silêncio da qual a mulher escapa) muitas vezes impede a elaboração profunda do evento e suas dores.
Aborto?
Para quem passa por ele, legal ou não, é uma dor terrível. Dor que às vezes precisa ser escolhida; PODE ser escolhida; o DIREITO de escolhê-lo é de fôro íntimo, e as leis (SECULARES, É ÓBVIO) vão desenhando o perfil ético de sua flexibilidade.
ALGUÉM AQUI CONHECE ALGUMA MULHER QUE ALGUMA VEZ TENHA DITO PARA ALGUÉM:
-"ESTOU PLANEJANDO MINHAS FÉRIAS; JÁ ESCOLHI MEU PROGRAMA: VOU
FAZER UM ABORTO SENSACIONAL! NÃO VEJO A HORA DE FAZÊ-LO!"
Duvido.
Mas tenho certeza que alguém já ouviu muitas dizerem:
-"Eu até gostaria de ter essa criança, mas falei com o pai, e ele disse 'não'; não tenho como assumí-lo sozinha, então serei obrigada a..."
Curiosamente, diante da criminalização ainda vigente, no caso de uma clínica (por exemplo) receber uma batida policial, são indiciadas as mulheres que lá estão, e os médicos; os milhares de HOMENS QUE ABORTARAM QUANDO SIMPLESMENTE USARAM TRÊS LETRINHAS AO DIZER "NÃO", não são "incomodados"!...
A flexibilização das leis seculares tem caminhado, mas A PRESSÃO DA IGREJA CATÓLICA BOTA O PÉ NO FREIO, e tempera esse caminhar com perversões.
Esse segmento retrógrado e patologicamente pervertido da Igreja Católica que está infelizmente em evidência é um dos braços mais perniciosos a perpetuar e a realimentar o patriarcalismo e seu irmão gêmeo, o patrimonialismo.
Patriarcalismo e patrimonialismo NÃO SÃO "COISA DE HOMEM"; são expressões de mera volúpia de exercício de poder, geralmente desenvolvidos por quem está despreparado para ele e para o exercício de uma autoridade de AUTOR (que difere da do tirano), seja homem ou mulher.
HOMENS?
Para desespero de amigas feministas mais radicais, como sempre opto por me apiedar e a me solidarizar com o contingente masculino, que TEM SIDO ROUBADO PELO PENSAMENTO E PELA AÇÃO PATRIARCAL-PATRIMONIALISTA EM MUITOS ASPECTOS DE SUA VIDA, inclusive DA OPORTUNIDADE DE REFLETIR SOBRE UMA DE SUAS EXPERIÊNCIAS EXISTENCIAIS: O SIGNIFICADO DA PATERNIDADE (entre tantas outras que venho enumerando, a partir de fala dos próprios homens, em meus textos anteriores; quem se interessar pelo assunto, que os consulte).
QUEM ALIMENTA E PERPETUA PATRIARCALISMOS E PATRIMONIALISMOS AUTOMATICAMENTE ALIMENTA O FILICÍDIO, ESSE ASSUSTADOR FENÔMENO TANÁTICO QUE DÁ UM "-F......" À TODAS CRIANÇAS DO MUNDO, VIVAS E POR NASCER (quando for plausível, preparado e escolhido), SOB TANTAS FORMAS ABOMINÁVEIS!
Quando a gente pensa "que já viu de tudo", vem um episódio como esse, e exibe o FILICÍDIO em uma de suas mais hipócritas e pervertidas faces!
HORROR! HORROR!...
Coitado de Jesus, que não tem NA-DA a ver com isso, que transformou água em vinho nas bôdas, que impediu o apedrejamento da suposta "pecadora", que clamava "Vinde a mim as criancinhas!" (não para abusar delas, claro, pois ele tinha mais o que fazer, batalhando pelos pobres e desamparados!)...
Jesus, que foi uma referência filosófica para ateus duros-na-queda, como Hannah Arendt e Oscar Wilde!
Por favor, dodoizinhos de batina, passem para cá - JÁ! - a minha excomunhão; e quem preferir igualmente o exercício da busca de uma dignidade mínima possível, que ao menos pense em fazer o mesmo.
A não ser que se torne possível, diante do nível doentio que nos é empurrado guela adentro, exigir eleições planetárias para um novo PAPA, ou - porque não - para (finalmente!) uma MAMA.
Aviso que já tenho - inclusive - candidata para indicar: IRMÃ IVONE GEBARA; esqueceu a história dela?
Talvez você tenha lido nos jornais e revistas da época, até ser "abafado".
Essa história tem, aliás, profunda conexão com os fatos em pauta!
Mais severamente punida que o Boff há alguns anos atrás? SIM!
Corra atrás dos livros dela (duvideodó você não gostar):
-"As incômodas filhas de Eva na Igreja da América Latina" (Ed. Paulinas);
-"Vida Religiosa: da teologia patriarcal à teologia feminista; um desafio para o
futuro" (Ed. Paulinas);
-"Teologia Ecofeminista" (Ed. Olho D'água).
EXISTE VIDA ECUMENICAMENTE SAUDÁVEL, E INTELIGENTE, NA IGREJA CATÓLICA!
Mas esse segmento só voltará a ter poder se nós o exigirmos!
Perdoemos; eles sabem o que fazem; e há patologia correndo nas veias da mediocridade da fissura por poder. Há soberba.
Mantenhamos o papel de misecordiosos em nossas mãos, já que eles abriram mão disso; ou não o querem.
"COMUNGAR" deveria ir MUITO além da hóstia, afinal; não é, D. Helder?
"Eles" ficam com a hóstia, e - curiosamente - nós, os excomungados, ficamos com a comunhão!
Até que venham novos PAPA ...ou MAMA.
Assim seja.
0 comentários:
Postar um comentário