PARA FRANCÊS VER

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Uma leitora que passou ontem aqui pelo Língua, de nome Beatriz, deixou um interessante comentário. Na verdade, um relato em tom de protesto sobre o último 21 de abril em Ouro Preto, onde o povo teve o seu direito constitucional de ir e vir confiscado pelo alcaide da capitania hereditária das Minas Gerais. Fiquei tão impressionado com os detalhes relatados sobre o ocorrido, que resolvi transformar o seu “manifesto” nesta postagem.

Se for mineira, a Beatriz deve estar tão indignada quanto este blogueiro que vos escreve, mas se não o for, peço-lhe sinceras desculpas, pois nós, os mineiros de verdade, cultivamos ainda hoje um hábito que faz parte de nossa cultura e tradição, o de recepcionar as pessoas na cozinha de nossas casas, um sinal de deferência com o convidado, uma forma de dizer sinta-se como se estivesse em sua própria casa.



"Não era só a Praça Tiradentes que estava fechada. Eu estava na Barra e não consegui sair de lá. Estou divulgando meu "manifesto":

PARA FRANCÊS VER

A festa da França no Brasil na cidade de Ouro Preto ontem, dia 21 de abril, foi algo um tanto quanto “inusitado”. Apesar de a imprensa estar divulgando que Milton Nascimento e Bibi Ferreira cantaram na Praça Tiradentes para a população na comemoração do ano da França no Brasil, os governantes mineiros esqueceram de abrir as “portas” para o povo. Estava em Ouro Preto e vi a coisa mais I-N-A-C-R-E-D-I-T-Á-V-E-L de que já tive notícias: os organizadores do evento FECHARAM a cidade e proibiram a circulação de carros E DE PEDRESTRES: nem turistas, nem moradores da cidade. Ninguém foi convidado para a festa. Vimos pessoas que diziam para os guardas que cercavam as passagens da cidade coisas como "moço, mas eu trabalho ali, como eu faço, vou perder o meu dia de trabalho?" e os guardas respondiam apenas "vai, estou cumprindo ordens". Minha amiga que tentava chegar a pé a uma feira de artesanato de pedra sabão também não pode passar e falou para um policial que eles estavam ferindo um direito constitucional (o direito de ir e vir), ele concordou, disse que sabia disso, mas que não podia fazer nada. E a TV mostra Milton Nascimento cantando para francês ver e ainda diz que o povo brasileiro viu também. Em Ouro Preto ontem só circulavam helicópteros. Os franceses e os governantes mineiros viajam de helicóptero. Carros e pedestres não eram bem vindos na cidade e foram simplesmente EXPULSOS de lá. Eu e meus amigos desistimos e fomos passar o dia 21 de abril na cidade de Tiradentes. Uma opção. Lá as pessoas não foram proibidas de circular pela cidade. Tenho dó da população da cidade de Ouro Preto que vive sabendo que só é vista e percebida como “gente” quando eles precisam dos votos (ouvi isso da moça que trabalha no hotel onde estávamos, quando depois de muito custo, conseguiu chegar ao trabalho). O ano da França no Brasil em Ouro Preto começou assim: francês fica e brasileiro sai. Foi uma experiência nunca vista e nem imaginada em minha vida. Eu não sei se é pior o que vi ou o discurso dos meios de comunicação exaltando a festa como se ela realmente tivesse existido. Eles transformaram a cidade de Ouro Preto em uma sala de casa, apenas para convidados vips e esqueceram das pessoas que são a alma da cidade: seus moradores e turistas... Onde ficaram todos (absolutamente TODOS) os nossos direitos? Na gaveta de algum palácio desses nossos políticos que têm o rei na barriga, mas esqueceram de gerar cidadania.

Beatriz - biaramsthaler@uol.com.br

11 comentários:

Anônimo disse...

Olá, não sou mineira não. São paulista e moro em São Paulo, mas sou completamente apaixonada por Minas Gerais e pelos cafés nas cozinhas com muita prosa e com a hospitalidade que só o POVO (destaque para a palavra "povo" nessa matéria)mineiro sabe oferecer! Obrigada pela publicação de meu comentário! E vamos continuar lutando para que nossas vozes sejam ouvidas! Bia

Anônimo disse...

Não há como não se indignar com um absurdo desse. O que mais choca é a postura da imprensa numa situação dessa. Onde está a tal liberdade pela qual lutou-se tanto? Fez-se tanto protesto para que no fim a manipulação vencesse?
Sou jornalista e sinceramente me envergonho por meus colegas de profissão estarem abaixando a cabeça a este ponto. Onde está o sonho que todo jornalista tem de levar a notícia para todos seja qual ela for? Tudo bem, temos de defender nosso clientes, mas o problema é que muitos têm perdido a própria ética e esse é muitas vezes um caminho sem volta. Precisamos acordar, lutar, mover montanhas para literalmente sair desse ciclo vicioso de informações "fakes" que tem nos rodeado. Quero informação sim, mas queremos a verdade acima de tudo.
Caroline Suzuki

Anônimo disse...

Parabens ao Língua de Trapo Também enviei para muitos a mensagem da Beatriz, mas sabemos que um blog faz muito mais e é muito importante que se divulgue essa ação truculenta do poder que deveria ser do povo.
Também enviei à Embaixada da França, que com certeza desavisados, devem ter pensado que ser necessária essa farsa toda. Na Embaixada da França conversei por telefone, fui muito bem atendida e com certeza ouvida, por isso mesmo escrevi o seguinte a eles, quando enviei a mensagem: "o objetivo de encaminhar este email é ajudá-los a contornar outras situações que, como esta, possam associar o nome da França a atitudes arcaicas, ultrapassadas, retrógradas, agressivas e preconceituosas como as com certeza orientadas por nossos políticos desatualizados e que pensam ainda poderem viver em tempos medievais". É preciso que todos alcancem o que isso reflete, por isso precisamos contar com que os que nos leem o façam com discernimento, sensibilidade e percepção para um fato que até poderia passar despercebido, não estivéssemos enfrentando uma volta a velhos tempos que tenho certeza nenhum de nós gostaria de reviver.
Anna-Luiza Ramsthaler - Brasília

SÃO da Cabeça disse...

O para "FRANCÊS VER" ficou famoso, esse comentário em forma de protesto.
A Sra. Beatriz está de parabéns, e o melhor de todo o comentário para mim foi:"Eu não sei se é pior o que vi ou o discurso dos meios de comunicação exaltando a festa como se ela realmente tivesse existido."
SÃO as vozes do POVO, para o POVO!

Lingua de Trapo disse...

Bia, bom dia
Estou certo de que os mineiros a que me referi no post ficaram tão indignados quanto eu, mas infelizmente, só temos os meios alternativos de comunicação para nos manisfestar, pois a imprensa mineira, com raríssimas exceções, trabalha a soldo para o Palácio da Liberdade(sic), para Aécio Neves e para que a cobiça dos poderosos de Minas chegue ao Palácio do Planalto.

Lingua de Trapo disse...

Caroline, estão todos a soldo. Quem não quis se submeter a isso, perdeu o emprego. Mas temo pelo pior se esse sujeito chegar ao Palácio do Planalto, vide o que está fazendo seu antecessor de partido, o Senador Eduardo Azeredo, o bandido que quebrou o estado de Minas Gerais e criou Marcos Valério, ele quer silenciar a internet. Temos que ir à luta.

Lingua de Trapo disse...

Anna Luiza, bom dia
É bom que os franceses saibam que a única influência deles que chega a Minas é só a dos prazeres da gastronomia, um privilégio reservado aos poderosos e aos mais abastados. Fora isso, só alguns negócios obscuros envolvendo empresas francesas e o poder público de Minas. Quanto aos ideais do iluminismo, por aqui só teve serventia para ornamentar a "estória" sobre a história da Inconfidência Mineira.

Lingua de Trapo disse...

São da cabeça, acho que já disse tudo, só nos resta fazer que este manifesto ganhe os blogões da rede.

HELIO disse...

Língua de Trapo parabéns por essa matéria.Brilhante.
Abraços
Helio

Unknown disse...

Eiiiiiiiiiiiita Luiz, o blog agitado.
Parabéns !


Abrs

Anônimo disse...

Depois de muitas bobagens, Der Kloakk Arbejder me fez escrever.

Entao, eu tmbm apoio.

Gilmarzinho Dantas x Barbosa das Ruas.

Eu apoio o Ministro Joaqim Barbosa da Ruas.

Eu execro o fascista Gilmarzinho Dantas.

Ps.: e qero ler Terezinha Carpes + Stela + Joao Paulo + Zejustino + outras boas mentes da esqerda Lulista aqí.

O puro sangue VERMELHO de povo é Joaqim Ogun Barboa das Ruas palmares.

Inté,
Murilo

 

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