Imagem: Breno Fortes/CB/D.A Press
Lambida do Portal Uai - 10/05/2009
A senhora se acha durona? Esta imagem de que é firme, dá bronca nos ministros, no presidente corresponde aos fatos?
No presidente não (risos). Eu faço o seguinte: não exijo de ninguém o que eu não dou. Acho que tenho de cumprir, como qualquer pessoa, certas coisas, tenho de responder por elas. Numa equipe, cada um tem de fazer o seu papel. Se me cabe fazer a coordenação, eu cobro prazo, realização e também presto contas. Se o prazo é meu e eu não o cumpri, também tenho de dar satisfação. Isso é princípio elementar de trabalho em grupo. Mas eu gosto muito dos ministros que trabalham comigo diariamente, que são os ministros do PAC. Considero que sou amiga de todos.
A senhora se sente mesmo a "mãe do PAC"?
O presidente Lula tem uma imensa capacidade de traduzir em explicações simples certas realidades. Como você explica o que é uma coordenadora? É muito mais econômico, sintético, rápido dizer ela é a mãe do PAC. E de uma mãe ele espera firmeza e ternura, porque é isso que mãe dá.
O Brasil está preparado para eleger uma mãe, uma mulher, presidente da República?
O Brasil está preparado para eleger uma mulher, para eleger negro, para eleger, como já elegeu, um metalúrgico. Somos um dos países que têm hoje maior tolerância. Não que não haja um longo caminho a ser trilhado no que se refere a direitos iguais das mulheres, dos negros, do tratamento dos índios. Em termos de sociedade, se há um país preparado para isso, é o Brasil. A América Latina está demonstrando isso. O Chile, a Argentina. Acho que a eleição do Barack Obama traz um sinal também muito forte nesse sentido.
A senhora já sentiu em algum momento da sua trajetória algum tipo de preconceito?
Acho que há sim, mas o preconceito no Brasil é uma coisa engraçada. Por exemplo, você estava falando dessa mulher dura, mandona. Você já viu algum homem ser chamado de mandão e durão? Eu fico sempre intrigada por que os homens são sempre meigos, bonzinhos, delicados. Outro dia, o Paulo Bernardo (ministro do Planejamento) ria muito porque ele falou que é o meigo-mor. Eu nunca vi, no Brasil inteiro, dizer que havia um homem duro. Outra coisa que achei interessante foi a investigação da minha vida amorosa. Cheguei à conclusão de que sou a única pessoa que tem vida amorosa no país.
E como é administrar isso?
Eu não administrei, porque eu não tinha. E, se tivesse, iria tomar todas as providências, porque uma vida amorosa é uma vida privada, não é uma vida pública. Não há justificativa para que certas coisas sejam transformadas em públicas. Aí, é espetacularização. Eu disse que não iria admitir transformar em espetáculo o meu tratamento. Porque uma coisa é eu comunicar a minha doença, outra é o fato de que alguém queira compartilhar uma luta que é só minha. Infelizmente, gostaria que eu pudesse compartilhar com todo mundo, me ajudando, mas não vai ser assim. Essa é uma luta absolutamente privada.
Qual a reação das pessoas ao anúncio da doença?
De muita solidariedade. A solidariedade é uma das coisas mais bonitas do país. E as pessoas do povo são extremamente delicadas de sentimento. Elas te dão uma porção de medalhinhas de Nossa Senhora e falam que vão rezar por ti. Elas se aproximam e falam: ‘olha, eu tenho um amigo que teve a doença, superou-a e está muito bem’. Outra diz: ‘olha, eu tive e estou aqui, faz mais de cinco anos’. Ou é a medalhinha para lhe dar força, para torcer por ti, de um jeito pouquíssimo invasivo, ou é dar exemplo para dizer que tudo vai dar certo. É um país de gente muito boa, de gente muito solidária, generosa. Para mim, foi surpreendente essa reação.
E como a senhora reagiu ao receber a notícia?
Eu não fui lá para fazer isso. Aí, os médicos descobriram. Quando descobriram, era pequenino. Me mandaram fazer uma porção de exames. Em nenhum aparecia nada. Aí, falaram: “vamos tirar” para fazer o exame que é o tira-teima decisivo, a biópsia. Depois, me chamaram de volta para eu fazer o PET (tomografia por emissão de pósitrons), para ver se havia outro ponto, não deu nada. Fui fazer aquele outro da medula, não deu nada. Quando está nesse pé de nada dá nada, você fica achando que não tem nada. Aí, eles mandam para os Estados Unidos. Você fica esperando voltar, uns 27 dias, uma grande parte desse tempo achando que não é nada. Um belo dia te pegam e dizem: “Olha, é”.
Aí, o mundo caiu?
Não, não caiu porque eu desconfiava. Eu achava que não era nada aqui na superfície. Lá no fundo, eu achava que era. É essa coisa complicada da mente humana, ela tem recursos com os quais você não conta, recursos de autodefesa. Então, eu recebi de forma serena. Eu me compliquei na hora de contar para a minha filha e a minha mãe. Aí é que é.
A senhora foi mais confortar do que procurar conforto?
Não, o presidente me deu muito conforto. A relação é de proteção e tal. Ao contar para a mãe e a filha é que é difícil. Contar para os seus. Estava lendo outro dia um livro e ele dizia isso, que a pior coisa é você chegar para a filha, a mãe, sentar e contar. Você tem que proteger os dois.
E a reação delas?
É uma reação de sofrimento, mas muito contida. Elas acham que, se elas sofrerem muito, vão me afetar. É essa relação complexa, a gente protege e ao mesmo tempo é protegido. A família é o suporte para cada um de nós. Imagine todos nós sozinhos no mundo? Que horror.
A senhora vai vencer esse inimigo?
Olha, eu tenho absoluta certeza de que vou. Sabe aquela convicção? Essa é minha (risos).
O tratamento de câncer é longo, e eleição, campanha, é difícil de fazer. A senhora terá condições de seguir uma agenda puxada?
Olha, o meu projeto é não parar de trabalhar nesse período. Obviamente, em alguns momentos você vai dar uma reduzida.
Essa força vem de onde? A senhora é religiosa, as medalhinhas ajudam?
Ajudam. Eu sou brasileira, ajudam sim. As medalhinhas, tudo ajuda. A reza, torcer, as histórias ajudam, a solidariedade ajuda.
Vocês têm interesse no governo de saber como essa coisa chegou às pessoas. Será feita alguma pesquisa?
Não acredito que o governo fará nada nesse sentido.
E como o PT reagiu?
Muito bem, muito solidário, muito amigo, as pessoas ligando preocupadas com a saúde. Acho que o Brasil mostrou um outro patamar de relação neste caso da doença. O PT reafirma a candidatura da senhora à Presidência.
Você conhece a história do não amarrado (gargalhadas)?
Você já ouviu falar em nem amarrada?
A especulação sobre o assunto não muda o dia a dia da ministra? Já disseram que os olhos da senhora brilharam ao ouvir da possibilidade de ser presidente.
Eu li essa história (dos olhos) no (Ricardo) Kotscho, mas vou lhe falar: no meu cotidiano, não houve modificação.
A senhora se sentiu mais aliviada depois de ter tornada pública a doença? Há pessoas que têm dificuldade em assumir.
Eu me senti muito melhor. E acho que para as pessoas públicas é muito melhor (divulgar). Agora, não acho que é um receituário único. A gente tem de respeitar muito o limite de cada um. Cada um de nós tem de ser respeitoso em relação a si mesmo. Tem de se respeitar para poder até enfrentar melhor.
A senhora sempre teve esse temperamento em situações de adversidade?
Todo mundo enfrenta as coisas. Nunca acredite que alguém enfrente tão diferente dos outros. Todos somos humanos, temos dificuldades de enfrentar a dor do mesmo jeito. O que é diferente é o seguinte, e estou falando não por esta experiência, mas pela minha do passado. Só há uma pessoa que pode te derrotar, só você. Se você não aceitar ser derrotado por ti mesmo, ninguém, nem o torturador, te derrota. Mas aí é outra coisa. Isso pode significar que até você se engana: “Eu aguento mais cinco minutos (de tortura)”. Aí, passaram-se os cinco minutos, você deu uma boa enganada em si mesmo e vai para mais cinco. A dor é uma coisa dificílima, a dor não é humana. A gente nasceu para ser feliz. Sempre acho isso, sou a favor do Joãosinho Trinta. A dor é uma coisa inexorável. Então, você tem de enfrentar mesmo, e só você se derrota.
A tortura foi o pior momento da sua vida?
Sim. Não tem nada igual à tortura. É a barbárie. Você imagina o que é não ser reconhecido como humano. Para alguém torturar alguém, seja pela cor da pele, seja por causa da crença, da ideologia política, a pessoa foi degradada de alguma forma. A barbárie é o seguinte: tudo é possível. Daí, você lembra daquilo do (Fiodor) Dostoiévski no final dos Irmãos Karamazov: se Deus não existe, então tudo é possível. Lá, Deus não existe, no sentido amplo e estrito da palavra. E é talvez por isso que é a coisa mais difícil de enfrentar. No resto, tudo tem dignidade. O negócio da tortura é tirar a sua dignidade, aí ferrou. E a gente nunca pode esquecer que eles conseguiram fazer com algumas pessoas isso, tirar a honra delas. Não há nada mais grave do que desonrar a pessoa e deixá-la viva.
Com uma agenda oficial tão atribulada, dá tempo de cuidar da família?
Minha filha é casada, tem a vida dela. A minha mãe mora em Belo Horizonte, mas ela e minha tia me visitam muito. Elas passam assim uns três meses comigo, depois voltam para lá, voltam para cá. Eu gosto muito quando elas estão aqui.
Quando a sua filha era mais jovem, seu ritmo de trabalho era outro?
Quando ela era muito pequena, eu tinha um ritmo de trabalho menor. Até porque eu não conseguia trabalhar quando ela estava doente. Depois, quando ela fica maior, você olha e fala: “Nossa, sofri tanto, achei que ela era tão frágil”, e aí vem um mulherão. Tenho para mim que é sempre possível, para todas as mulheres, criar os filhos e construir sua vida. Obviamente, pelo menos no meu (trabalho), todo mundo entendia quando, por um acaso, ela tinha um ataque de asma e eu tinha que sair correndo. Eu saía em disparada carreira. A gente sofre feito o cão (com a asma). Você sempre fica ali por um fio. A criança não tem ar, não tem nada mais terrível. Com a Paula eu fiz de tudo, vacina, natação, o diabo. Cada vez que ela fazia natação, pegava uma bronquite. Eu ficava desesperada. Aqui, o clima é outro. Vai fazer natação no Rio Grande do Sul.
Qual o melhor presente que a Paula lhe deu?
O melhor presente que a Paula me deu foi ela mesma. A gente se acha única na hora que o filho nasce, premiada, como se ninguém tivesse filho na vida, só você. É uma sensação que nenhuma outra coisa…talvez quando ela me der um neto.
E qual o melhor presente que a senhora já deu para sua mãe?
Eu sempre estou em dívida com a minha mãe. Para a mãe a gente sempre deve. Eu sou uma devedora. Nunca acho que dei o melhor presente.
Do que a senhora se arrepende de não ter feito?
Ter mais filhos. Mais uns dois.
4 comentários:
Esta Língua é de ouro, não de trapo.
Muito bom o novo layout, páginas e aplicativos abrem bem mais rápidos.
Também voto na Dilma!!
Só um idiota não vota Dilma.
!!@v@nte Língua!!
É amigo Soldado, o puxadinho tornou a nossa vida bem melhor.
!!@v@nte!!
Entrevista de Dia das Mães... não diz muita coisa, as respostas são todas as "certas". Quero ver Dilma mandando ver nos assuntos quentes.
Boa noite a todos.Faltaram tantas perguntas e uma faço eu.Dilma se em vez do soldado Kozel de 19 anos tivesse morrido sua filha,concordaria em pagar indenizaçao aos terroristas?Se concorda,poderia vir a publico defender isso?
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