Lambido daqui
a peste, a flecha e o santo
delumeau explica que os europeus tinham verdadeiro panico da peste e que isso durou vários séculos, do XIV até o XVIII pelo menos. a peste negra ( ou bubônica) simplesmente aniquilava familias inteiras, populações inteiras. A violência dos surtos era tamanha que se costumava representa-los através de um ataque de flechas. algo no nível daquele episodio da guerra das termópilas: uma chuva de flechas. certeiras, rápidas ,inevitáveis. chuva vinda, logicamente, dos ceus como punição divina pelos pecados e infidelidades da humanidade.
o historiador frances cita muitos paines e pinturas que associam a peste à flechas. mas não consegui encontrar nenhuma imagem na internet. eu poderia reclamar que a edição que eu tenho é ruim pois não tem uma gravura se quer. mas se trata de uma edição de bolso, logo, a ausencia de figuras é o menor dos seus problemas.
por outro lado, eu sou metida a historiadora. e, como toda essa raça degenerada de seres proto-humanos, sofro de bloqueios mentais caso não consiga achar pelo menos 15 fontes que atestem o meu ponto. alguns chamam isso de rigor metodológico. eu, que ja estou em fase de recuperação, chamo isso de arrogancia academica. de qualquer forma, achei pelo menos uma ilustração no livro Piety and Plague From Byzantium to the Baroque, capítulo, olhem, Mice, Arrows and Tumors. não que qualquer um de voces vá ler. eu mesma não li.
as tentativas de amenizar os efeitos devastadores da peste foram tão inumeras quanto ineficazes: ela desaparecia por alguns anos, só para reaparecer pior mais tarde. apelou-se para varios santos. o principal deles: são sebastião. acreditava-se que as preces a ele direcionadas teriam efeito anti-pestifero.
o santo martire, segundo se conta, foi condenado a morte por ser cristão. a grande questão é que são sebastian não era qualquer um, mas capitão da guarda pretoriana. o imperador diocleciano sentenciou então que sebastian deveria ser atado, semi-nu, a um poste e crivado por dezenas de flechas. milagrosamente, porém, o capitão cristão sobreviveu e aí que voltamos a falar da peste. são sebastião talvez pudesse estender sua propria imunidade àqueles que passavam por um ataque de flechas/peste e que lhe clamavam salvação. e foi assim que seu culto se tornou popular.
mas ainda não chegamos a parte mais interessante. como disse, são sebastião era um capitão , um guerreiro. e digamos que os guerreiros, em geral, não possuem exatamente um corpo fora de forma. são sebastião era o que podemos chamar de um cara gostoso, se formos acreditar que ele tenha realmente existido, é claro. mas talvez, e isso é só uma possibilidade, o que de fato seja instigante nas retratações do santo não seja o corpo forte e os musculos definidos. pelo menos não só. mas a expressão de dor estampada no rosto do jovem. quem sabe aquela dor bem especifica que se alimenta ao mesmo tempo que dá origem ao extase. acho que a santa teresa de bernini poderia nos explicar melhor a situação.
e ja que falamos dela, alguns pensam até que a flecha, aquela na mão do querubim travesso, não é apenas uma flecha (ela mais uma vez). dizem que essa historia de ponta flamejante é freudiana demais. mas isso é assunto para outro ocasião.
se celebra o dia do santo anti-pestilencia no dia 20 de janeiro. voces não vão ficar surpresos quando eu disser que ele é patrono dos atletas e, obvio, dos aqueiros.
existe um sem-numeros de quadros e estátuas de são sebastião. uma série inteira de mais ou menos meia duzia de imagens do santo foram feitas pelo pinto italiano guido reni. dizem que o pintor era gay , por isso sua fascinação (quase fixação) por são sebastião. oscar wilde, muito conhecido nos meios especializados como "a bee master do seculo XIX" (agarrei, toloka!) parece que era devoto do santo.
claro que são sebastião pode ser considerado um icone sexual. e não só pelos gays.
esse ainda é um blog familiar. para ver mais imagens de putaria retiradas
do quadrinho sangue para o papa clique aqui.
eu pessoalmente, não curto muito os caras com carinha de bebê ou mancebos ou garotões, chame voce do que quiser. por isso é um pouco dificil achar uma imagem do santo que junte os elementos que me agradam. mas, um santificado que seja reconhecidamente belo já trás suficiente satisfação. ainda mais para uma ateia. mas estou inclinada a pensar que não seria capaz, mesmo que acreditasse no divino, de render graças e suplicas a um são francisco de assis.
o meu quadro preferido sobre o tema, the dying saint sebastian de françois xabier fabre. por uma feliz coincidencia foi pintado em 1789, provavelmente o ano mais quizumbeiro da história.
0 comentários:
Postar um comentário