A VIRGEM NO MOTEL

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Por Geraldo Elísio
“Não se pode brincar com o fogo sem o risco de se queimar. - Ditado popular brasileiro

Conheço uma senhora religiosa, virgem convicta, de fato virtuosa, que sempre se hospedava num aprazível e módico pequeno hotel do centro de Belo Horizonte. Razões diversas fizeram com que ela, residente no interior, ficasse algum tempo sem vir a capital dos mineiros. Na primeira oportunidade em que isso se fez possível ela chegou a Beagá e procurou o hotel de costume.

Foi preencher a sua ficha de hospede e o porteiro indagou se alguém a esperava, tendo ela respondido que não, mas era uma usuária antiga dos serviços da casa. O moço indagou se alguém chegasse e procurasse por ela se poderia subir. Ela respondeu: “Só se for a minha sobrinha que é freira”. A ficha do rapaz caiu e ele a informou: “Estou vendo que a senhora não está sabendo, mas aqui agora é um motel”. Aos prantos ela saiu dali direto para o Palácio Episcopal para pedir perdão a um bispo por cometer o grave pecado de entrar em um motel sem saber que o hotel onde ela sempre se hospedava havia transformado em alta rotatividade.

A propósito de que se conta essa história? Em função do encontro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ex-presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o ex-ministro da Defesa e também ex-ministro do STF, Nelson Jobim, episódio agora mergulhado em dúvidas e contradições.

Os “companheiros” que sempre partem do princípio da negação, ou então acreditam que os pecados dos outros neles se transformam em virtudes, desde que mantido o Poder e os empregos que dele emana como de hábito julgaram impossível Lula, “o santo guerreiro” ter se avistado com “o dragão da maldade” Gilmar Mendes, sob os auspícios de um ente do limbo, Nelson Jobim.

Entretanto o Instituto Lula em nota redigida pelo ex-ministro Luís Soares Dulci confirma o encontro acrescentando que não foi bem assim, se encontraram, mas sem que Lula tivesse pedido o adiamento do mensalão e nem oferecido “blindagem” ao ministro Gilmar Mendes por suas perigosas supostas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Por outro lado, num balé de contradições, o ex-ministro Nelson Jobim igualmente confirmou o encontro ficando agora a faltar a palavra de Luiz Inácio Lula da Silva. Ora, quem não deve não teme. Não tenho razões para duvidar da indignação da qual Lula se diz possuído, mas disponho obviamente de argumentos para indagar, até mesmo porquê perguntar não ofende, as razões pelas quais ele não recorre à Justiça e processa Gilmar Mendes por calúnia e difamação?

O atavismo por primeiro explica a razão pela qual uma galinha, se for convidada por uma raposa para um jantar a dois, de longe recusará a gentileza. Tanto Lula, quanto Gilmar Mendes ou Nelson Jobim nunca deviam ter se travestidos de “trapalhões”, sem querer ofender a memória dos humoristas do quarteto, jogando o Brasil em uma crise de tão graves proporções. Mas aconteceu nessa elevada adrenalina da prática do rapel de cachoeira por parte de homens que há muito deixaram de ser “saradões” feito rapazes e moças na plenitude da juventude a se dedicar ao esporte.

E nem eu estou pedindo ao Lula que corra em prantos ao cardeal de Brasília para se exorcizar por ter entrado virgem em um motel pensando estar no antigo e respeitável hotel onde se acomodava quando necessário em tempos anteriores. Basta a Igreja os problemas que ela já enfrenta. Mas Lula, na sua indignação compreensível pode recorrer à Justiça, ainda que seja para processar um membro do Judiciário, principalmente se ele e outros estiverem rolando nas águas tormentosas de alguma cachoeira.

Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

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