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Presos iluminam praça pública em Santa Rita do Sapucaí pedalando

Esforço produzido por detentos acelera a busca pela liberdade, já que a cada três dias trabalhados, eles reduzem um no cumprimento da pena


DIREÇÃO DO PRESÍDIO DE SANTA RITA DO SAPUCAÍ/DIVULGAÇÃO
preso em santa rita do sapucai
Alternador instalado no pedal armazena a força mecânica produzida pelo preso em uma bateria


Parece uma simples atividade física para preencher o tempo ocioso do encarceramento. Mas a bicicleta adaptada colabora com o meio ambiente, ajuda na ressocialização e acelera a busca pela liberdade. No presídio de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, a geração de energia limpa é movida a pedaladas.

Enquanto o “preso sustentável” pedala, o esforço é transformado em eletricidade. O sistema é simples. Um alternador, instalado no pedal, armazena a força em uma bateria de carro. A energia é suficiente para iluminar cinco postes de uma praça pública da cidade por 12 horas.

Pelo trabalho, os detentos recebem remição de pena: a cada três dias de pedalada, um a menos no cumprimento da sentença. Seis presos participam do projeto, divididos em dois grupos. A cada dia, as equipes revezam o trabalho, que dura seis horas.

O primeiro requisito para ingressar no programa, inédito no Brasil, é ter um bom comportamento. Os detentos também passam por uma avaliação médica, já que a atividade requer preparo físico. Em seguida, um acordo é firmado entre a direção da unidade prisional e a Justiça local.

Prestes a completar 20 anos de atuação na área de direito penal, o juiz José Henrique Mallmann é o responsável pela implantação do projeto no presídio de Santa Rita do Sapucaí. “No sistema prisional, as pessoas acabam isoladas, sozinhas. Essa é uma forma de trazer um benefício para a sociedade, iluminando um local público por meio de uma energia totalmente limpa”, avalia o magistrado.

Segundo o juiz, novas propostas de ressocialização dos presos, principalmente por meio do trabalho, são discutidas com frequência. A ideia da bicicleta é baseada em trabalhos desenvolvidos em países europeus. O custo do projeto não foi informado, mas seria baixo, asseguram os envolvidos. Os próprios diretores da unidade prisional teriam feito a adaptação da bike, após a leitura de um prospecto na internet, e a montaram.

De acordo com o diretor-geral do presídio, Gilson Rafael Silva, duas bicicletas estão em funcionamento. A previsão é a de que pelo menos mais dez possam entrar em operação. A energia gerada seria suficiente para iluminar os 34 postes de um calçadão de aproximadamente três quilômetros, que corta a atual praça iluminada.

Gilson Silva conta que há uma lista com 50 presos interessados em participar da iniciativa que gera energia limpa. “Ainda é um projeto-piloto, mas a aceitação tem sido muito positiva. Eles estão interessados e reconhecem a importância social desse trabalho”, afirma o diretor-geral.

Cumprindo pena desde 2010 por associação ao tráfico de drogas, Anderson Barroso da Silva, de 20 anos, é um dos participantes. Ele, que já foi de bicicleta de Santa Rita do Sapucaí até Aparecida do Norte (SP) – percorreu cerca de 200 quilômetros por 12 horas –, conta que o interesse surgiu logo após o projeto ser apresentado aos detentos.

“Sempre andei de bicicleta e essa era mais uma oportunidade para diminuir minha pena, oferecendo algo de bom em troca”, diz o preso, que terá direito à liberdade em dois meses. “Todos na cadeia têm interesse em participar. A ideia é muito boa”, acrescenta Anderson Barroso, que também dedica parte de seu tempo a trabalhos de artesanato.

De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a iniciativa, devido ao baixo custo e sustentabilidade, deve ser estendida a outras unidades. Porém, não há datas definidas.

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