Luiz Costa
Emprego
A analista financeira Ludmila indicou o primo Paulo para o cargo de arquivista

Para enfrentar a falta de trabalhadores, as empresas, principalmente as de grande porte, estão deixando de lado a tradicional restrição de não contratarem parentes e amigos de funcionários. A questão ainda divide opiniões de especialistas em recursos humanos, mas o pragmatismo tem falado mais alto na busca por técnicos e profissionais especializados.

A construtora Conartes, especializada no segmento de luxo, criou no ano passado um programa para incentivar funcionários a indicarem amigos e parentes para trabalhar. A iniciativa já resultou em dez contratações, sendo que o funcionário que indica alguém recebe uma bonificação de R$ 50. Caso o indicado passe pelo período de experiência de três meses, este valor é dobrado. Atualmente, o sistema é adotado para ocupar cargos mais difíceis de serem preenchidos, como eletricistas, pedreiros e carpinteiros, de acordo com o gerente de comunicação Thiago Xavier Gonçalves.

Para a diretora da Quatre Recursos Humanos, Daniela Vidigal, a adoção de um modelo de contratação como o da Conartes é positivo, mas deve se adequar à cultura de cada empresa. “Algumas organizações incentivam essas indicações porque os novos contratados já viriam com um adicional de confiabilidade”, diz.

Já a coordenadora de recrutamento e seleção da Selpe, Keith Lee, ressalva que as pequenas empresas são resistentes a este tipo de contratação por causa da proximidade criada entre parentes no ambiente de trabalho, o que poderia gerar conflitos. Para ela, organizações de grande porte não podem criar muitas restrições porque precisam renovar permanentemente seu quadro de pessoal.

A solução para a carência de técnicos encontrada pela construtora Direcional Engenharia veio com a criação de um programa interno para recrutar engenheiros e profissionais da área administrativa indicados por membros da equipe, iniciativa que já resultou em 14 contratações, de acordo com a diretora de Recursos Humanos, Ana Carolina Huss. Uma dessas contratações foi a do arquivista Paulo Gustavo da Silva, indicado no ano passado pela prima, a analista financeira Ludmila Coelho. “Trabalhamos em andares diferentes, mas é bom saber que tenho uma pessoa da família dentro da empresa. Ela me ajuda quando tenho dúvidas”, diz.

De acordo com a coordenadora de recrutamento e seleção da Selpe, Keith Lee, grandes companhias como Vale, Gerdau e Fiat incentivam as indicações de amigos e parentes dos funcionários, mas desde que não haja relação de subordinação direta entre funcionário e indicado.

“Já setores como construção civil e telecomunicações estão flexibilizando ainda mais a contratação e admitindo profissionais com experiência aquém da considerada ideal, com o objetivo de treiná-los”, afirma.