E FIM DE PAPO!

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Luís Nassif
Luís Nassif
economia@hojeemdia.com.br

22/09/2013

Já tinha alguns anos de jornalismo, o país começava a lutar pela redemocratização, fui entrevistar Abraham Lowenthal, um dos pensadores do Partido Democrata norte-americano e estudioso da América Latina. Na época, nós, jornalistas econômicos, estávamos empenhadíssimos em convencer o meio empresarial de que a democracia era um “bom negócio”. Fiz uma série de perguntas sobre a importância da democracia para a economia.

A resposta de Lowenthall me derrubou. “A democracia é importante porque é importante. Não precisa de justificativas econômicas”.

Saindo de Macapá, depois de uma palestra para coordenadores do Sebrae de todo o país, me vali do ensinamento de Lowenthal. Um dos temas debatidos foi a Bolsa Família.

Um dos coordenadores apontou os benefícios que a Bolsa Família trouxe a inúmeras regiões estagnadas do seu Estado. Primeiro, veio o novo consumo, através da Bolsa Família e da Previdência Social. Em seguida, vieram os novos empreendimentos. Com eles, novos empregos. E a região ganhou vida própria. No país todo, a melhoria de renda gerou um mercado de consumo fantástico.

Outro coordenador tinha visão diferente. Sua percepção era a de que as mães pobres passaram a ter mais filhos, para aumentar a bolsa; as famílias fugiram para as cidades, sobrecarregando os serviços públicos; e diminuiu a propensão de todos para o trabalho.

Com a Bolsa Família, houve redução da natalidade e da mortalidade infantil. Mesmo reduzindo a mortalidade infantil, houve redução dos filhos. Ou seja, o programa exerceu um papel civilizador, ao permitir às mães planejar e impedindo as crianças de morrer.

As estatísticas mostram, também, número crescente de beneficiários pedindo desligamento, depois de conseguir renda suficiente. Mas é óbvio que, com a Bolsa Família e a Previdência, os jovens passaram a entrar mais tarde no mercado de trabalho e houve uma queda na oferta de mão de obra para empregos de baixíssima remuneração.

Os dois fatos se refletiram em toda a estrutura de emprego, provocando um efeito cascata de aumento do salário real. Já as cidades mais pobres, especialmente no Nordeste, receberam mais famílias pela relevante razão de que os caraminguás da Bolsa Família deram condições a elas de permanecer na sua região, mesmo enfrentando uma das maiores secas da história.

Lembrando Lowenthall: a Bolsa Família é importante porque acabou com a fome de milhões de brasileiros. E basta.

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