A exploração irresponsável da tragédia

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Mais uma vez o que se vê é a exploração exacerbada das enchentes em Santa Catarina. Não estou aqui para minimizar o que de fato ocorreu naquele estado. Mas o leitor não deve esquecer que a comoção nacional é uma especialidade da mídia corporativa para aumentar audiência que, sem medir conseqüências, transforma os dramas dos indivíduos em estratégia de negócio.

Como se sabe, Santa Catarina é um estado que tem significativa parte de sua economia baseada no turismo. E é por esta mesma razão que compreendo o quanto o noticiário é capaz de ser mais nocivo ao cidadão catarinense do que a própria tragédia.

E a prova de que isto realmente está ocorrendo vem do próprio estado, onde o setor hoteleiro contesta publicamente as dimensões que a mídia deu para a tragédia. Para que o leitor tenha uma idéia, a população do estado é de quase 6 milhões de habitantes e o número de desabrigados é em torno de 80 mil, ou seja, pouco mais de 1,3% da população.

Leia a matéria abaixo publica agora a tarde no Terra.

Hoteleiros: Santa Catarina "não está debaixo d'água"

Preocupados com os possíveis prejuízos que as enchentes em Santa Catarina possam provocar no turismo, donos de hotéis preparam uma campanha para informar e atrair os turistas neste verão. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Santa Catarina (ABIH-SC), Wilson Luiz de Macedo, afirmou que o objetivo é mostrar que o Estado "não está debaixo d'água".

"Queremos que os turistas recebam a informação adequada e não só sobre a tragédia. Fora (do Estado) só se fala que Santa Catarina está debaixo d'água, e não bem assim", afirmou.

Macedo admite que o setor registrou perdas nas últimas semanas, como o cancelamento de reservas, por exemplo. No entanto, a associação não chegou a fazer um levantamento numérico dos prejuízos. "É prematuro falar sobre esse assunto, pois não temos dados agora do que deverá ocorrer até o fim do ano, estamos trabalhando firmemente para que a temporada não seja ruim", disse.

A expectativa para a presença de turistas em Santa Catarina nos próximos meses é vista como uma forma de movimentar a economia e ajudar a reconstrução das áreas atingidas. Conforme Macedo, na rede hoteleira do Estado as perdas materiais efetivas com as enchentes foram mínimas, pois os desastres ocorreram, em sua maioria, em cidades que estão fora do circuito turístico.

"É importante que os turistas estejam aqui para que nós tenhamos efetivamente capacidade de superar estes problemas e ajudar a reconstruir esses locais afetados, que representam entre 6% e 7% do Estado", disse ele, lembrando que o turismo é responsável, somente no verão, por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o Estado - que somou mais de R$ 85 milhões em 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A campanha direcionada ao incentivo do turismo no Estado deve ter início na próxima semana e será feita, em grande parte, pela Internet. "É uma forma que temos de chegar mais rapidamente às pessoas e também de concorrer com o que é divulgado pela grande mídia televisiva", afirmou.

Em Florianópolis, a procura por hotéis para este fim de ano está em torno de 50% da capacidade da rede, mesmo índice registrado no ano passado, segundo o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, Tarcísio Schmitt. Ele afirmou que os empresários estão otimistas em relação à ocupação no verão, inclusive porque as reservas têm sido feitas, nos últimos anos, com pouca antecedência.

"As reservas já devem aumentar a partir desta semana. Espera-se uma temporada tão boa quanto a última, apesar de todos os problemas no Estado", afirmou.

As cheias e deslizamentos que atingem Santa Catarina já deixaram mais de 100 mortos e quase
80 mil desabrigados. Pelo menos 31 pessoas estão desaparecidas, a maioria vítima de soterramento. Ao menos 14 municípios estão em estado de calamidade pública.

Redação Terra

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