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Caros leitores e leitoras, por motivos de força maior tenho, nos últimos dois dias, ocupado este blog com umas lambidas de conteúdo alheio, mas prometo voltar em breve com a pauta própria. Mesmo assim, compartilho com vocês uma espécie de mea culpa que fez o Jornalista Paulo Moreira Leite em sua coluna na Revista Época, onde também ocupa a função de Diretor da Sucursal de Brasília.
Na verdade, o que deixa perplexo é a capacidade de dissimulação e de desfarçatez que possuem estes estafetas da mídia corporativa. Haja Óleo de Peroba que de conta de tanta cara de pau.
Um bom exemplo de ética no jornalismo
Qui, 25/12/08 por Paulo Moreira Leite
Há profissionais que consomem páginas e páginas para explicar o que deve ser a ética no jornalismo. Eu acho que não é preciso tanto: defender a ética é defender os interesses do leitor. Basta não enganá-lo com mentiras nem esconder informações relevantes que o leitor será defendido. Parece fácil mas pode ser dificílimo.
Você provavelmente nunca ouviu falar de Rachel Meddow, jornalista americana que apresenta um programa às 9 da noite na MSNBC. Não importa. Deve-se a ela um dos gestos mais contundentes para proteger a ética do jornalismo nos tempos atuais — numa lição de aplicação universal, inclusive em nosso país.
Dias atrás, Rachel Meddow entrevistou uma das grandes economistas americanas, Laura Tyson, que foi uma das principais assessoras econômicas de Bill Clinton, fez uma carreira acadêmica respeitável e costuma publicar artigos de repercussão nos EUA. Com esse currículo aparentemente sem manchas, Laura Tyson deu um longo depoimento sobre o pacote de US$ 10 bilhões do governo americano para ajudar o banco Morgan Stanley, uma das instituições financeiras atingidas pelo colapso de Wall Street.
Seria uma entrevista de valor indiscutível, não fosse por um detalhe: entre outras atividades, Laura Tyson integra o Conselho Administrativo do banco e, nessa função, tem uma remuneração anual de US$ 350 000 dólares, ou quase US$ 30 000 por mes.
A própria Rachel Meddow ignorava essa situação quando fez a entrevista. Informada, no dia seguinte abriu o tele-jornal para pedir desculpas ao público. Ouviu a própria Laura Tyson, que explicou que concordara em dar seu depoimento porque sabia separar a fronteira de suas opiniões econômicas de seus interesses financeiros. A própria Rachuel lamentou que o público não tivesse sido informado sobre os interesses financeiros da entrevistada.
Este não é um fato isolado. Outra rede de TV americana, NBC, tem um consultor de assuntos militares que possui uma imensa rede de interesses na industria bélica. Quando aparece no vídeo, porém, é identificado como “analista militar.” É o crachá ideal para um lobista, concorda?
No Brasil, temos um longo caminho a percorrer nessa história. Em alguns casos, a promiscuidade é imensa.
Economistas que se tornaram executivos de grupos de investimento costumam ser ouvidos como se fossem economistas — ou seja, puros especialistas de uma determinada área da atividade humana, com isenção e independência para formular hipóteses e defender opiniões. Intelectuais que deixaram a vida acadêmica para se tornarem quadros políticos continuam sendo exibidos como intelectuais.
Acho que ninguém deve ser excluído do debate político de um país. Pessoas com interesses definidos tem o quê dizer em suas áreas de atuação e, muitas vezes, construíram um conhecimento único de determinados assuntos. Mas seus vínculos profissionais e interesses devem ser bem explicados — para o leitor não pensar que está comprando uma coisa por outra.
O público precisa ser informado com transparência, concorda?
Clique aqui para ler também os comentários feitos pelos leitores, pois alguns até atestam a minha tese.
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