HÁ MAIS COISAS PODRES POR TRÁS DAS MONTANHAS DE MINAS GERAIS DO QUE SE POSSA IMAGINAR

|


Foi condenado o matador, embora como antes, ele continuará em liberdade, mas o mau cheiro continua, ainda falta encontrar os mandantes. E esta vai ser uma tarefa difícil de ser cumprida.
Reportagem lambida do portal do Jornal O Tempo.

Reinaldo Pacífico é condenado a 14 anos de prisão por morte de modelo
10/01/2009 03h48 - Marcelo Portela

Em sessão de mais de 13 horas de duração, jurados acatam tese da acusação de que Cristiana Aparecida Ferreira foi assassinada e condenam ex-namorado, que já adiantou que recorrerá da sentença.

Depois de oito anos de investigações e disputas jurídicas e mais de 13 horas de sessão no I Tribunal do Júri do Fórum Lafayette, a Justiça condenou o detetive Reinaldo Pacífico de Oliveira Filho, 41, a uma pena de 14 anos de prisão pela morte da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, 24. No entanto, o réu ganhou o direito de recorrer da sentença em liberdade.

"Foi um resultado justo. Esperamos agora que o Ministério Público busque os mandantes do crime", afirmou o advogado Dino Miraglia Filho, assistente da acusação. Já Pacífico considerou a sentença um "erro judicial" e afirmou que pretende recorrer a todas as instâncias para reverter a decisão. "Infelizmente, erros judiciais acontecem. Vou recorrer a todas as instâncias dentro do meu direito e da minhas posição de inocente", salientou.

Desde antes de 1h, após o debate oral entre acusação e defesa, uma grande expectativa tomou conta da platéia que assistia à sessão. No entanto, o plenário do júri, que passou todo o dia e parte da noite lotado, já estava vazio quando a decisão dos jurados foi anunciada, exatamente às 3h deste sábado.

No fim do julgamento, o advogado Fernando Antônio dos Santos Santana renunciou à defesa de Pacífico, que ficou à cargo exclusivamente da advogada Eunice Batista da Rocha Filha. "Renuncio por dois aspectos. O primeiro é a certeza de que meu cliente é inocente. O segundo é por uma divergência com a defesa que, por questões de foro íntimo, prefiro não externar", afirmou.

"Havia uma divergência em relação à forma de condução da defesa. Tenho muito respeito à colega, que está há mais tempo no caso, e, por uma questão ética, decidi renunciar", afirmou Santana. O juiz Carlos Henrique Perpétuo Braga esteve a ponto de dissolver o júri e anular o julgamento mas, diante de argumentos da defesa e da acusação, decidiu manter a sessão.

Cristiana era ex-namorada de Reinaldo Pacífico e foi encontrada morta em 6 de agosto de 2000, no apartamento 1.601 do San Francisco Flat Service, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A Polícia Civil concluiu o caso afirmando que ela havia se suicidado. O Ministério Público, no entanto, não concordou com a tese, reabriu o caso e, após cerca de oito meses de investigações, concluiu que Cristiana foi assassinada e denunciou Pacífico pelo crime.

Ao longo da sessão, foram ouvidas oito testemunhas - três de acusação e cinco da defesa -, além do próprio Pacífico, que negou qualquer relação com a morte. O réu também rebateu os depoimentos de testemunhas como José Geraldo Nunes, que afirmou ter escutado Pacífico confessar o crime. "É uma inverdade", repetiu o acusado várias vezes


Desfecho

Apesar do resultado, para a família essa novela está longe de acabar. "A morte da Cristiana está relacionada a uma queima-de-arquivo. Ela tinha carta branca no governo e acesso a vários recintos. Fazia coisas na inocência e, quando descobriu o que era, foi assassinada", afirmou o técnico em manutenção Eduardo Ferreira, irmão de Cristiana.

Ele se referia às ligações de Cristiana com diversos políticos do primeiro escalão do governo mineiro, tema presente na maioria dos depoimentos ouvidos durante a sessão, apesar de o Ministério Público acusar Pacífico de crime passional e da defesa insistir na tese de que a jovem teria se suicidado - como sustentou a Polícia Civil.

"Foi feito realmente um processo investigatório. Houve exame de local e coleta de materiais", afirmou Eunice Filha, após ler dezenas de trechos de relatórios policiais e periciais para os jurados. "O inquérito policial chegou ao Fórum com 14 laudas concluindo pelo suicídio. Ouvimos 41 testemunhas e fizemos nove diligência para que pudéssemos concluir pelo homicídio, ou mesmo suicídio. Demoramos oito meses para chegarmos a uma conclusão, para que pudéssemos, sem ser levianos, denunciar alguém", ressaltou o promotor Francisco de Assis Santiago.

Uma das testemunhas ouvidas durante o dia foi o ex-governador de Minas, Newton Cardoso, que chegou ao fórum ironizando sua participação no julgamento. "Vim falar sobre a Faixa de Gaza", Durante seu depoimento, porém, ele assumiu ser dono de apartamento no San Francisco Flat Service no mesmo andar daquele em que Cristiana foi encontrada morta, mas negou ter conhecido a vítima. Cardoso disse que apenas a viu uma vez, no Palácio da Liberdade, em companhia do então governador Itamar Franco e de seu secretário de Estado de Governo, Henrique Hargreaves.

Newton Cardoso sugeriu que a Justiça ouvisse Itamar Franco e se irritou ao ser perguntado se era amante da jovem ou se sabia de relações dela com Hargreaves, com o ex-ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, ou com o então presidente da Cemig, Djalma Morais. "Está achando que sou cafetino (sic)?", indagou furioso ao assistente da acusação.

Ele, no entanto, confirmou depoimento prestado ao Ministério Público durante as investigações, no qual afirmou que era conversa comum entre os funcionários da vice-governadoria de Minas que Cristiana frenquentava constantemente o gabinete do vice-governador quando o cargo era ocupado por Mares Guia. "Não posso confirmar envolvimento íntimo. Não me interesso por fofocas de alcova", ressaltou.

Walfrido chegou a ser ouvido pelo MP durante as investigações sobre a morte de Cristiana e foi arrolado como testemunha no processo mas, de acordo com informação encaminhada à Justiça, não compareceu porque estaria fora do país. Dino Miraglia ressaltou que o ex-ministro havia sido intimado regularmente e solicitou que a Justiça lhe aplique multa pela ausência.

Um dos depoimentos mais marcantes, porém, foi o de José Geraldo Nunes, amigo de Reinaldo Pacífico à época da morte e atualmente incluído no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita) junto com o filho, Marcos Vinícius da Cruz. Ambos chegaram ao Fórum Lafayette sob forte esquema de segurança montado pelo Grupamento de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar.

Segundo as testemunhas, Pacífico teria confessado o assassinato de Cristiana porque a ex-namorada estaria levando uma vida promíscua. "Eu matei aquela vagabunda", teria falado o detetive, de acordo com os depoimentos. Nunes disse que só resolveu denunciar Pacífico porque o detetive teria insistido para que ele também cometesse um crime. "Ele (Pacífico) me procurou várias vezes para que colocasse um explosivo ou drogas no carro do irmão da Cristiana. Para desestruturar a família", disse. "Estava me sentindo um Judas. Era amigo do Reinaldo", completou.

O acusado, porém, classificou o ex-amigo como "falsa testemunha". "Há vários erros e inverdades em seu depoimento que, como réu, eu não tinha como mostrar. Mas isso tudo será esclarecido", adiantou. Pacífico contou ainda que José Geraldo Nunes lhe devia dinheiro de três meses de arrendamento de um imóvel do acusado. "Quando fui cobrar, ele se irritou", disse.


Malas

Uma revelação de Nunes que provocou reação na platéia, porém, foi a de que Cristiana trabalharia "carregando malas de dinheiro" para políticos. A testemunha, porém, assumiu que não viu essas "malas" e declarou que soube do fato apenas por relatos do próprio Pacífico. "Eu perguntei se ele queria que a gente fosse buscá-la na saída do trabalho, no aeroporto. Ele falou que ela não trabalhava no aeroporto. Naquele momento, trabalhava carregando malas de dinheiro para políticos de Brasília para Belo Horizonte".

O delegado Paulo Bittencourt, da Polícia Civil, responsável pelo inquérito que concluiu pela hipótese de suicídio, também depôs e confirmou que a jovem nunca trabalhou no aeroporto. "Isso não muda a situação do Reinaldo nem a questão do julgamento. Mas podemos pedir a abertura de novo procedimento para investigar as denúncias", concluiu Francisco Santiago.

0 comentários:

 

©2009 Língua de Trapo | Template Blue by TNB