NA SABEDORIA PROFANA DE NELSON RODRIGUES, AS RAZÕES QUE DÃO CONTA DAS BIZARRICES DE UM JACU DE GALOCHAS QUE UM DIA RESOLVEU SER PRÍNCIPE

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Nada me tira da cabeça que foi de dentro do próprio DEM que foi aceso o pavio para explodir o Deputado Edmar Moreira, pois pelo que se tem ouvido e lido, sua ascenção do baixo clero à Mesa Diretora da Câmara foi, digamos assim, fruto exclusivo de sua própria ambição e de arranjos políticos feitos à revelia das próprias lideranças do seu partido. Se observado o histórico pessoal, empresarial e político do Deputado, que agora surge com maior riqueza de detalhes, minha tese começa a fazer algum sentido.

A maior prova de que isso é verdade vem da própria direção do partido que, tão logo se fez pública a estória do castelo, pediu a renúncia ao cargo de corregedor e já iniciou os trâmites para o processo de expulsão do mesmo do partido e, tudo isso, com ampla cobertura da mídia aliada, coisa incomum quando se trata de políticos da oposição.

Mas aproveitando a veia literária que, neste final de semana, arrebatou a mim e ao meu alter ego, o Língua de Trapo, buscamos nas célebres frases do dramaturgo Nelson Rodrigues um viés bem humorado para ilustrar o espetáculo tragicômico que se abate sobre o Deputado Edmar. E não por acaso, cairam como um luva para ilustrar uma reportagem de dez anos atrás da revista Veja, que reproduzo na íntegra nesta postagem, mas não antes das tiradas de sabedoria do poeta boêmio.

- No Brasil quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte. (E não demourou muito mesmo para aparecer muitas das tramóias do nobre Deputado)

- O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. (e a prova material vocês vão ver na reportagem)

- Toda família tem um momento em que começa a apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. Lá um dia aparece um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao mesmo tempo. (O pai ladrão já apareceu, mas tem mais gente por aí, a irmã que é Prefeita, o filho que é Deputado, bem, é só aguardar)

- A família é o inferno de todos nós. (será também o do Deputado)

- Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado sempre tem razão. (o DEM é refúgio preferido de político ladrão)

- É impossível ser ridículo dentro de uma Mercedes. (mas dentro de um castelo em São João de Nepomuceno, tenho minhas dúvidas)

- Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de bater. (o Deputado deveria ter pensado nisso antes de ter dado ouvidos à sua mulher e, agora, ser motivo de chacota nacional)

25/08/1999


Vale do Loire?
Não, Minas Gerais

Deputado constrói em cidade do interior castelo do tamanho de um palácio medieval

Daniella Camargos, de São João Nepucemo


O dono chama-se Edmar Batista Moreira. Aos 59 anos, é um ex-capitão da Polícia Militar que, da noite para o dia, se transformou em empresário bem-sucedido e deputado federal. A dona é Júlia Fernandes, de 52 anos, nascida de uma família humilde. O casal é proprietário de um fabuloso castelo no interior de Minas Gerais. São 7.500 metros quadrados de área construída (maior que o Castelo de Neuschwanstein, nos Alpes da Baviera, que inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney), 32 suítes, dezoito salas, oito torres, 275 janelas, uma piscina com cascata, fontes e espelhos d'água. Fica no distrito de Carlos Alves, vilarejo de pouco mais de 1.000 habitantes e 300 casas, no município de São João Nepomuceno, a 70 quilômetros de Juiz de Fora.

O castelo de Edmar e Júlia nasceu de um desejo dela. A mulher do deputado ficou enciumada quando um irmão de Edmar, Elmar, comprou a fazenda mais bonita da região. "Se eles têm a melhor fazenda, então eu quero um castelo", teria dito. O "capitão Edmar", como é conhecido, não poupou esforços e criatividade para superar o irmão. Estima-se que, em doze anos de obras, a construção tenha consumido 10 milhões de reais – mais do que o preço de muitos castelos de verdade no interior da França. Agora, pronto em todo seu esplendor, o palácio serve de casa de campo para o casal passar os fins de semana e receber eventuais convidados. Entre eles lá esteve, em 1993, o então presidente da República, Itamar Franco.

Entra-se no castelo dos Moreira por um enorme portão de ferro. De lá, uma sinuosa estrada de 4 quilômetros percorre o quintal de 8 milhões de metros quadrados e leva até a casa. Ao longo de suas curvas, postes metálicos sustentam luminárias e caixas de som. Das oito torres do castelo, a mais alta é a que abriga no topo a suíte do casal, com 110 metros quadrados. Tem 47 metros de altura, igual a um prédio de treze andares. Cada uma das 32 suítes conta com quatro cômodos: quarto, sala de estar, closet e banheiro. O castelo está equipado, ainda, com uma cozinha industrial capaz de atender 200 pessoas, dois elevadores, sistema de aquecimento central, uma capela e um anexo de lazer, com sauna, salão de jogos e de ginástica. Também possui uma adega subterrânea climatizada, com capacidade para 8 000 garrafas. As quase três centenas de janelas são feitas de madeira sucupira. As escadarias são de granito escuro.

Filho de um carteiro de Juiz de Fora e de uma professora primária, Edmar Moreira foi criado entre oito irmãos. Influenciado pelo pai, ingressou na Polícia Militar e chegou ao posto de capitão. Sua carreira militar foi interrompida por um episódio que escandalizou a sociedade juiz-forana. Em 1968, em uma festa de réveillon no Clube D. Pedro II, ao saber que um rapaz se havia engraçado com sua mulher, Moreira foi buscá-lo em casa. Ele obrigou o moço a entrar de pijama na festa, escoltado por policiais, e humilhou-o na frente de todos. Acusado de "abuso de autoridade", o capitão foi punido e afastado da ativa. Três anos depois, formou-se em direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Com o diploma na mala, mudou-se para São Paulo, onde fundou uma empresa na área de segurança. Começou a enriquecer. Hoje tem três companhias no ramo. Segundo um dossiê elaborado por um desafeto seu e entregue anonimamente no ano passado à Polícia Federal e ao ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, o enriquecimento de Moreira foi turbinado por algumas falcatruas. O relatório garante que o ex-capitão não paga o FGTS de seus empregados e sonega imposto de renda, INSS e ISS. O dossiê revela ainda que suas empresas mantêm um endereço de fachada em Pilar do Sul, interior de São Paulo, para escapar da tributação da prefeitura paulistana. Procurado por VEJA na semana passada, o deputado recusou-se a conversar com a reportagem.

Moreira tem dois mandatos como deputado federal, o primeiro pelo PRN de Fernando Collor e o segundo pelo PPB de Paulo Maluf. Apresentou cinco projetos, um deles propondo aumento de salário aos policiais militares. Além do castelo, é dono de um apartamento tríplex no bairro de Higienópolis, em São Paulo, onde mora, de uma mansão no Guarujá, no litoral paulista, de outra em Coronel Pacheco, terra natal de Júlia, e de vários imóveis em Juiz de Fora. Nenhum dos imóveis, porém, é motivo de tanto orgulho e zelo por parte do deputado quanto seu castelo. O deputado não permite sequer que o fotografem. Os incautos que se aproximam para usar o monumento como pano de fundo de fotos de debutantes e noivas são expulsos das cercanias pelos seguranças e, com freqüência, têm os filmes confiscados. Quer dizer, na arquitetura o ex-PM Moreira se imagina um príncipe. No comportamento, age como coronel do sertão.

2 comentários:

Unknown disse...

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Abraços Yvy

Anônimo disse...

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