Geraldo Elísio escreve no Novo Jornal. Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises.
“Ô pacato cidadão, te chamei a atenção / Não foi à toa, não.” – “Pacato Cidadão”, de Samuel Rosa e Chico Amaral, interpretação original do Skank.
Por uma estranha coincidência há muito tempo o Estado de Minas Gerais vem sendo o epicentro de formidáveis escândalos que abalam os alicerces da República. E mais estranho ainda, não se vê a apuração e punição de nada.
Como se estivesse vigorando nas montanhas mineiras a “omertà”, palavra de origem italiana (umiltà – humildade) a Lei do Silêncio que, no sul da Itália, acoberta os gangsters da Máfia, “Ndrangheta” e Camorra. Algo como um “voto de silêncio” entre os mafiosos e que não pode ser quebrado.
Para outros, em linguagem mais simples o que ocorre é uma Síndrome dos Elefantes Circenses. Quando os circos trabalhavam com animais, nos picadeiros, era comum ver domadores colocarem os paquidermes andando em fila indiana em torno do picadeiro, cada animal segurando o rabo do outro com a respectiva tromba. Simplificando, todos de rabo preso, no caso da corrupção o termo designa partícipes de culpas iguais.
Salvo, obviamente, as honrosas exceções de praxe. Porém, igual às andorinhas, uma só delas não é capaz de fazer o verão.
Estranho Estado de Minas Gerais onde tais escândalos acontecem, geram manchetes em todas as formas de mídia – impressa ou eletrônica – que misteriosamente desaparecem como se nada tivesse ocorrido, gerando um descrédito entre o público similar apenas à falta de credibilidade quanto aos políticos.
Mas ninguém a quem de direito diz nada. Do Tribunal de Contas de Minas Gerais dizem ser o mesmo capaz de enxergar uma pulga e não divisar elefantes, gerando o chiste de que o nome real da instituição é Tribunal faz de Contas. O Ministério Público se movimenta, contudo, resultados concretos ainda não são uma realidade.
E Minas Gerais vai vivendo de ficção, uma extensão territorial vasta onde 853 municípios, a maioria dos quais sem a menor perspectiva de futuro se debatem em crises permanentes, independentemente do crash que abala o universo, sem ser o filme de Paul Haggis. Mas em virtude de interesses eleitoreiros alguns deputados resolveram emancipar distritos sem a menor condição de serem municípios.
Com um cenário adequado em função de suas montanhas e serranias, Minas Gerais vai se transformando em um imenso presépio, sem as santidades que os presidem, mas excedendo-se em “vaquinhas” com um monocórdio coral de améns. E com isto consolidando o lamento do poeta Carlos Drummond de Andrade, para quem “Minas é apenas um retrato na parede”.
Desconfio, levaram também a moldura e a fotografia, o Estado sendo transformado em uma visagem na memória.
Aos mais afoitos que podem pensar que estas mal traçadas linhas são um repúdio ao meu Estado natal, aviso que é exatamente o contrário. Meu desabafo é no sentido de querer ver Minas Gerais tão desenvolvida quanto outros estados se desenvolveram. E não Minas presa a velhos preconceitos e estereótipos superados pelo tempo.
A Minas Gerais irredenta de Felipe dos Santos e José Joaquim da Silva Xavier, o “Tiradentes.” Dispensado o traidor Joaquim Silvério dos Reis. A Minas do Manifesto dos Mineiros. A Minas arrojada e futurista de Juscelino Kubitscheck de Oliveira. A Minas de Milton Campos e Pedro Aleixo; José Maria de Alckmin e Israel Pinheiro. A Minas nacionalista de Arthur Bernardes.
A Minas do Aleijadinho e mestre Athayde. A Minas de Alphonsus de Guimarães e o simbolismo genial de “Ismália” e do inovador “Grande Sertão Veredas” de João Guimarães Rosa. A Minas do Clube da Esquina, do Corpo e do Grupo Galpão. A Minas do Skank e do J Quest, que renovar é preciso. A Minas do Cruzeiro e do Atlético a quebrar uma superioridade outrora pertencente ao Rio e a São Paulo.
Mas não há que se perder a esperança. Foi também em Minas que um dia se tornou possível a partir de Betim, com dom Tomaso Buscheta, na Itália, o surgimento de homens como o juiz Giovanni Falcone para quebrar a “omertà” e combater o crime organizado com a Anti-Máfia e a Operação Mãos Limpas.
E como estamos precisando de detergentes.
Minas Gerais é o que é, não aquilo que gostariam que ela fosse. Uma hora o silêncio será quebrado e todos os verdadeiramente culpados punidos. Marcos Valério não pode continuar a ser a logomarca mineira. Doa a quem doer.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta.
gelisio@novojornal.com
2 comentários:
faltou principalmente dizer a minas gerais de chico xavier...
Isto é que se pode chamar de mineiro porreta.
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