OS BASTIDORES DO PORNÔ BRASILEIRO, UM TEMA MUITO BOM PARA DESMASCAR A HIPOCRISIA MIDIÁTICA NACIONAL

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Lambido do blog Raios Triplos

Eliza em fatias

“Para o [filósofo] Jean Baudrillard, o pornô (como as ciências médicas) fragmenta o corpo para expor os seus pormenores.” A citação da antropóloga María Elvira Días-Benitez no recém-lançado livro Nas Redes do Sexo – Os Bastidores do Pornô Brasileiro me deu arrepios. Sou um desses que se deixaram obcecar pelo chamado “Caso Bruno” – uma conjunção de personagens e episódios moralmente lamentáveis, encerrada de forma trágica. E macabra. Por uma curiosidade obviamente mórbida, fui conferir na internet os filmes pornô de Eliza Samudio – as imagens em movimento que vão perpetuar sua existência, depois de assassinada e retalhada. E ficou a terrível sensação de que a moça já tinha sido moída em vida.

Corajosa e detalhada investigação sobre a indústria brasileira do cinema de sexo, o livro oferece coordenadas para quem tentar a imaginar a trajetória da aspirante a modelo curitibana pelo mundo do pornô, com direito a ridículos nomes artísticos e tudo mais. María Elvira fala dos baixos cachês e das inúmeras exigências para entrar nesse mercado subterrâneo e maldito, em que as estrelas mulheres são poucas e a sua vida útil, curta demais.

A se julgar pelo que vi e li, Eliza foi a típica atriz dos pornôs hétero mainstream. Aquele que descarta gays, travestis e as bizarrices (sexo com anões e animais, escatologia), mas não abre mão de alguns tapinhas e da sodomia. Pelos padrões desse tipo de produção, dá para dizer que a moça era, infelizmente (ou não), uma péssima atriz. Não existe, em sua performance, a menor naturalidade. Aquelas consideradas boas atrizes são as que “gostam da coisa” ou pelo menos conseguem fingir de forma convincente. Não era o caso de Eliza. Nas cenas em que instrumentos monstruosos de diferente formas lhe são introduzidos, a visão chega a ser incômoda. É visível que aquilo dói. E os closes da câmera, que fatiam a mulher a sangue frio, fazem dessa fita algo próximo a um snuff movie.

Que os descaminhos de sua opção de vida tenham jogado Eliza em seguida na cama de um famoso jogador de futebol, que ela tenha engravidado e que ele tenha decidido simplesmente sacrificá-la para “resolver o tormento”, tudo isso parece ser só uma exacerbação dos mecanismos simbólicos do pornô. Que descarta suas estrelas com maior velocidade que o cinema “normal” e a TV. E que acaba por destrinchar sua carne de de uma forma que não tem nada de metafórica.

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