Lambido do Novo Jornal
Por Geraldo Elísio
“Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende”. – Neném Prancha, filósofo do futebol, das praias cariocas
Agora, após o “Apito Final”, considerações mais consistentes podem ser feitas sobre o primeiro turno das passadas eleições de 3 de outubro. Onde, entre os grandes perdedores se situam os institutos de pesquisa e o PIG, sem contar algumas novas mídias entre as quais a internet.
Domingo, em algum ponto qualquer não identificado, o “Sobrenatural de Almeida”, de Nelson Rodrigues, o “Imponderável de Souza”, de minha lavra, e a “Zebra”, criação do ex-técnico do Botafogo do Rio, Gentil Cardoso, se encontraram para influir no último pleito.
E tendo eu utilizado o título de um dos mais importantes programas esportivos da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte para nominar o editorial, vamos à aplicação de alguns conceitos futebolísticos adaptados à prática política.
Ninguém é vencedor antes do juiz fazer soar o “Apito Final”. Só a vontade dos “torcedores” não basta para se ganhar um jogo. A fúria das “hinchas” como diriam os portenhos “pode empurrar um time”, mas não é o bastante. Entrar no “esquema do adversário” é mortal para qualquer equipe ou esporte individual. Gol contra nem pensar. E o “tapetão” nem sempre é solução. Considerar a “Zebra” é imprescindível, da mesma forma que a dispensa do “sapato alto”.
Por ordem inversa, o PT calçou um salto quinze, desprezando as insatisfações populares originadas de uma mudança radical de discurso; do “Mensalão” e “Lista de Furnas”, “patrocínios” e “rendas” indevidas para a manutenção de “estruturas clubísticas” e “plantel”; e crendo que o pecado mortal de outros, em petistas, transforma-se em virtude. Além do mais, não identificar que algumas práticas dos demos e tucanos, por ele mantidas, irritam da mesma forma o eleitorado.
Quanto a “Zebra”, em se sabendo que ela pode estar em qualquer lugar, obviamente o Acre, que também faz parte do território brasileiro, deveria ter sido observado com maior cuidado. Um partido político que se dá ao luxo de perder militantes do quilate de uma Heloísa Helena e Marina Silva, “com um banco de reservas desfalcado”, certamente uma hora sentirá os desfalques.
A ex-ministra Marina Silva obteve um crescimento espontâneo inesperado e levou a eleição para o segundo turno, o que equivale a uma “prorrogação” no futebol. Com as equipes já desgastadas e um deles com um jogador a menos. Afinal, nos últimos instantes do jogo Erenice levou “um cartão vermelho”.
Claro, nada dessas anomalias foi criada pelos petistas. Há mais de 500 anos ocorrem tais fatos no Brasil. Creio que a gênese ocorreu com Pero Vaz de Caminha, escrivão mor da frota de Pedro Álvares Cabral, inaugurador do nepotismo ao pedir um emprego para um cunhado, na carta em que comunicou a El Rei a descoberta dessa terra “onde em se plantando tudo dá”. Acontece que o PT, igual a antiga UDN de macacão, criou uma expectativa nova, “marcou primeiro” e permitiu “a “virada”.
Em qualquer quadrante esse “esquema de jogo” não funciona, desde a tentativa de “penetração pelo centro”, aos “avanços pelos flancos direito ou esquerdo”, com apoio de “médios” centro esquerdas ou direitos. “Tapetão” não é o caso.
Contudo, o pior é entrar no jogo do adversário, “perder o próprio ritmo”. E isso começou nas “preliminares”, quando o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel se aliou ao hoje senador eleito Aécio Neves para eleger Márcio Lacerda, dito “O Breve”, prefeito da Capital, primeiro tijolo da construção da Dilmasia.
Logo depois da eleição de Lacerda, encontrei Pimentel no Café Kalua, no centro de Belo Horizonte. Ele explicou que as pesquisas mostravam que nem ele nem o então governador Aécio Neves dispunham de um nome para administrar Belo Horizonte, “diante da recusa do então ministro Patrus Ananias”. Disse entender o problema dele, mas indaguei porque o mesmo estava a se preocupar com o problema do adversário, algo assim como se o Vasco da Gama estivesse ser preocupando com a “falta de alternativa do Flamengo diante de uma eventual contusão nas hostes do esquadrão rubro negro da Gávea”. Fiquei sem a resposta. Óbvio, com a concordância do técnico Lula da Silva.
Tempos depois surgiu a Dilmasia criada pelo ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, também aparentemente aprovada pelo presidente da República e com Dilma, sem eufemismos, sugerindo que o nome da tese fosse mudado para Anastadilma, com Anastasia “de bate pronto” rebatendo a idéia e mais tarde, pensando melhor, “recuperando a jogada”.
O que aconteceu nos bastidores? De fato Pimentel e Aécio não dispunham de nomes? Os números das sondagens populares exibidos sempre foram falsos? Inclusive os de Lula e da sua propalada capacidade de transferir votos? Lula superestimou a sua própria capacidade de fazer um sucessor? De fato Lula sabia de uma realidade incógnita e precisava mesmo de um apoio em território mineiro para a sua candidata? Teriam Walfrido dos Mares Guia e Pimentel vendido uma mercadoria que não podiam entregar?Pimentel teria traído o PT em nome de ambições pessoais? Se foi isso, alguém pedirá a sua expulsão do partido? Dúvidas! Muitas dúvidas. Responda quem puder.
Nas “considerações finais”, haverá espaço para a “Turma do Bate Bola Político” – não se preocupe meu amigo Emanuel Carneiro, será apenas uma vez que, em nome da nossa amizade, estarei “invadindo a sua praia”. Mas vale considerar que o governador Antônio Anastasia, agora reeleito, obteve a vitória com mais de 62% dos votos válidos em Minas, contra 34% e poucos de Hélio Costa. Pimentel obteve 23% da aprovação dos mineiros e Aécio Neves quase 40%. O que os amigos anunciavam é que Aécio teria mais de 70%, o que o credenciaria para a presidência do Senado. Não ocorreu.
Numa análise mais aprofundada vemos que a criatura (Anastasia) obteve mais votos que o criador (Aécio), exatamente em números percentuais correspondentes ao percentual de Pimentel o que significa que se ele não tivesse “marcado gols contra” e “aproveitado bem as finalizações” trabalhando a favor dos petistas haveria a “prorrogação”, quer dizer o segundo turno. Também responda a isso quem puder.
A “partida final” agora deverá ser decidida em Minas. E a grande indagação é “quem contratará o passe de Marina Silva”, “com a bola sob os seus braços”. Alguns “torcedores” eu sei, ficarão irritados com a verdade comentada, mas isso faz parte do crescimento democrático e da ampla liberdade de expressão responsável que defendo com unhas e dentes como o fiz durante todos os anos de chumbo.
Para um pequeno número de integrantes das “torcidas organizadas” pode-se até mesmo providenciar um estoque de “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, escrito por Lênin.
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