"É lamentável dizer, mas é fato: democracia argentina, hoje, respira melhor sem Néstor Kirchner"
Por Reinaldo Azevedo
Néstor Kirchner poderia estar sendo saudado como o homem que liderou o processo de reconstrução da Argentina, que chegou a uma espécie de grau zero da legalidade. Em vez disso, a democracia é que dá certo suspiro de alívio.
A sorte lançou o político relativamente obscuro e provinciano ao primeiro plano da política. Num governo que teve de ser de união nacional, usou a liderança e o enorme poder que conquistou para liquidar seus inimigos internos no peronismo e deu um jeito de continuar no poder por intermédio de Cristina Kirchner, sua mulher, eleita presidente em outubro de 2007. Em julho daquele ano, passei as férias na Argentina. Embora Cristina fosse senadora por Buenos Aires, bastante conhecida, a verdade é que os argentinos votavam em seu marido. Ela era, de fato, a “muié do Kirchner”.
Em seu “segundo mandato”, os Kirchner decidiram adaptar as instituições a seu projeto político: em vez de instituições fortes, o casal forte. No momento, o “kirchnerismo” trava uma renhida batalha contra a liberdade de imprensa, uma espécie de palavra de ordem que une vários governantes da América Latina que ou tiveram a sua origem na esquerda (não era o caso de Cristina e seu marido) ou adeririam à chamada “onda vermelha” no continente. Hugo Chávez, a quem o casal se associou no continente, foi quem chegou mais longe. O presidente da Venezuela, diga-se, está na raiz de um escândalo comprovado envolvendo a eleição de Cristina: o coronel enviou à Argentina uma mala cheia de dólares para financiar sua campanha.
Kirchner, que tinha o comando do Partido Justicialista, lutava para ser o candidato à sucessão da mulher em 2011 — e essa seqüência não deixa de ser, em si, esdrúxula. Mas vá lá: assim poderia ser nos marcos da democracia. Infelizmente, não é o que vinha acontecendo, não! Não se trata de saudar a morte de ninguém, evidentemente. Mas a democracia argentina, hoje, tem mais chances sem Kirchner do que com ele. Ele estava empenhado em fraudar as regras do jogo que o elegeram e fizeram dele um presidente poderoso e popular.
Não é o caso de usar a morte para extrair lições; basta uma constatação terrivelmente óbvia: por mais que os políticos e os partidos, especialmente os de corte autoritário, imaginem que podem fazer a história caminhar segundo a sua vontade, o acidente continua no comando.
Esses que se organizam para permanecer 20, 30 anos no poder têm de ter isto em mente: pode demorar, mas os molestadores da democracia morrem sempre antes da esperança.
2 comentários:
E por que esse jornaleiro lambão não aproveita e se muda pra lá?
Aqui no Brasil, não precisamos de um elemento desses aqui não!
E nós vamos respirar melhor quando tivermos coragem de fazer o que os Kirchner fizeram na Argentina com relação à imprensa. É duro respirar em um país como o nosso onde jornalistas imbecis comandados por revistas e jornais fascistas, discutem liberdade de imprensa de forma coorporativista. Aqui no Brasil é assim, a imprensa golpista faz o que quer, entra aonde quer, fala o que quer, julga e condena. Acaba com a vida das pessoas em uma manchete de jornal.
No entanto, referente à Lei Azeredo, a imprensa golpista não diz nada.
Com relação ao autor da matéria da Veja, digo que no dia de seu juízo final, certamente haverá pessoas comemorando sua passagem - e não serão poucas.
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