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'É um sofrimento inútil', diz microempresária que abortou

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Há 20 anos, a microempresária Cátia Corrêa, 42, foi a primeira mulher no Estado de São Paulo a conseguir autorização para interromper a gestação do filho anencéfalo que esperava.

Hoje, o STF (Supremo Tribunal Federal) deve decidir se grávidas de bebês anencéfalos (sem cérebro) têm o direito de interromper a gravidez. O julgamento ocorre após oito anos de tramitação e sob forte polêmica

No caso de Cátia, um ultrassom, feito no quinto mês de gravidez, identificou a malformação, além de deformações na coluna vertebral, nas pernas e nos braços do bebê.

"Sentia dores horríveis, a barriga ficou imensa por excesso de líquido amniótico", lembra. De família católica praticamente, ela conta que ficou entre "a cruz e a espada" quando decidiu que não levaria a gravidez adiante.

"Mas escolhi o que eu desejava para mim. Queria muito ser mãe, mas não manter um sofrimento inútil", diz.

Quatro anos depois, em um segundo casamento, ela engravidou novamente. Atenta a todas as precauções, tomou ácido fólico durante os três meses que antecederam a gestação e nos quatro meses seguintes.

Sem plano de saúde e vivendo numa cidade pequena do interior, só fez o ultrassom morfológico no oitavo mês de gestação. Resultado: outro bebê anencéfalo.

'Meu mundo caiu. Não saía mais de casa, não queria ver ninguém." A criança nasceu de parto normal e morreu em seguida.

"Era horrível, uma cabeça muito pequena, cheia de ondas. Naquele dia, morri mais um pouco."

Cátia engravidou uma terceira vez, mas sofreu um aborto espontâneo. Hoje, vive com o marido e os quatro filhos que adotou --dois meninos de 9 e 10 anos e gêmeas de 4 anos.

"Faria tudo de novo. Falo pelas minhas próprias dores, pelas consequências que ficaram em mim. Até hoje não consigo ver bebê recém-nascido. Mulher que gera um filho anencéfalo não vai ser mãe. Negar o direito dela interromper essa gestação é obrigá-la a carregar um defunto na barriga."

1 Comentário:

Anônimo disse...

Primeiro serão os sem cérebro, depois os que tem problemas cardíacos, depois os com Sindrome de Dow ou qualquer outra síndrome. É a Eugenia se instalando entre nós. É a dita seleção. Só poderá viver quem for perfeito.

 

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