BOM DOMINGO!

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Religião e Longevidade

Essa semana, as páginas amarelas da revista Veja trouxeram uma entrevista com um psiquiatra americano, autor de 40 livros que relacionam crença religiosa com saúde, o professor Harold Koenig. Sua apresentação pela jornalista que o entrevistou não poderia ser mais instigante: “nasceu em uma família católica, mas hoje, por influência da mulher, frequenta a igreja protestante”.
Selecionei alguns trechos para comentar, porque eu tenho mesmo uma certa antipatia por pessoas “influenciáveis”, e gosto de externar essa antipatia, mesmo que não possa ser diretamente para a fonte dela.
Perguntado como havia chegado à conclusão de que a religiosidade aumenta a sobrevida das pessoas em até 29%, ele respondeu que “Há uma relação significativa entre frequência da prática religiosa e longevidade. Acredito que o impacto na sobrevida seja até maior, algo em torno de 35%”.
“Acredita”? Aparentemente as conclusões do entrevistado não são baseadas em pesquisas científicas sérias, como a que divulguei no texto O Falso Poder da Oração. Quando você “faz ciência”, você não “acredita” nos dados obtidos: você os calcula.
Outra coisa, na mesma resposta, ele afirmou que “tanto os mandamentos religiosos quanto a vida em comunidade estimulam a boa saúde”. Eu gostaria que ele tivesse dito exatamente a que mandamento(s) ele estaria se referindo. Quando à vida em comunidade, divulguei também outro estudo a respeito em Eis o Mistério da Fé.
Mais à frente na entrevista, ele diz que:
As crenças religiosas precisam influenciar sua vida para que elas influenciem também sua saúde.
Quanto mais uma pessoa fosse influenciada pela sua religião, mais ela deveria acreditar que sua fé seria suficiente para manter sua saúde, ou lhe curar de doenças, e menos procurar assistência médica especializada. Isso não faz parte do mundo em que eu vivo. No mundo em que eu vivo, as pessoas religiosas vão dar depoimentos chorosos em programas de tevê com pilhas de papéis de exames clínicos na mão, que mostram como Deus as curou, através dos seus respectivos planos de saúde…
Quando a entrevistadora quis saber se havia alguma evidência que mostrasse se uma determinada religião teria mais efeitos positivos do que outra, quando se considerava os fatores saúde e longevidade, ele disse que não havia “estudos confiáveis” sobre o tema, e ainda veio com essa:
Um credo cujos benefícios são óbvios no Brasil pode não ter o mesmo efeito positivo sobre as pessoas nos países árabes.
Donde se infere o motivo que o levou a mudar para a religião da esposa: não é o sistema de crenças que importa, mas o fato de você estar “conectado” ao mesmo sistema de crenças das pessoas que o cercam. Não é à toa que sociedades diferentes, em épocas diferentes, inventaram deuses diferentes…
O senhor diz que quem vê Deus como uma entidade distante e punitiva tem menos benefícios para a saúde do que quem o vê como um ser compreensivo e que perdoa. Por quê?
A religião pode virar uma fonte de stress se aumentar o sentimento de culpa ou gerar um mal-estar na pessoa (…). Por isso, acho que faz bastante diferença acreditar em um Deus amoroso e misericordioso.
Donde se conclui que Deus é aquilo que você quer que ele seja.
Falando sobre o comportamento de pacientes em estado terminal, ele diz que aqueles que são religiosos“toleram melhor o processo da morte. Eles acreditam que não é o fim e, por isso, não ficam tão ansiosos. Sabem que vão para um lugar melhor”.
Não, eles não sabem, porque não há como “saber”. Eles têm fé; eles acreditam; eles esperam que seja como sua crença sempre lhes disse que será. E uma coisa que Richard Dawkins disse e que nunca me saiu da cabeça foi que, se esse pensamento tivesse um mínimo fundo de verdade, um mínimo de vínculo com a realidade à nossa volta, seria fácil descobrir, num velório, quais dos presentes seriam ateus e quais seriam os crentes.
Quando a jornalista quis saber o que ele pensava de ateus e agnósticos, o crente que havia nele não aguentou mais ficar escondido por trás do escritor, do professor, do pesquisador, e se revelou em toda sua idiotice:
Apenas uma fração do mundo pode ser explicada pela ciência.
Claro, em tudo mais, você enfia o seu Deus e resolve o problema.
Noventa por cento da população mundial acredita em Deus e, se você faz parte dos 10% que não creem ou não têm certeza, ao menos mantenha a mente aberta.
Eu acho que alguém deve ter dito isso para o primeiro grego que começou a desconfiar que a Terra era redonda. E incrível como o fato de 100% das pessoas não concordar com ele não foi suficiente para mudar a forma do nosso planeta.
Mantenha sua mente aberta pra isso também. 

1 Comentário:

Lingua de Trapo disse...

Oops! Eita ressacada danada. Hoje ainda é SÁBADO!

 

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