Fernando Gabeira, o eleito

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O exibição orgástica da dupla Alexandre Garcia e Renato Machado, anunciando atônita, a chegada de Fernando Gabeira ao segundo turno das eleições cariocas, no BOM DIA BRASIL de segunda-feira me deixou, para usar um termo bem apropriado para a ocasião, BEEEGE!

O desespero da direita metida a européia, racista e endinheirada carioca achou eco no discurso pseudomoralista das organizações Globo e elegeu Fernando Gabeira como o seu estandarte.

É sim, na zona sul carioca, nos emergentes intelectualizados da periferia e na parte chique da zona oeste, também conhecida como província separatista da Barra da Tijuca, que se encontra o eleitorado deste novo fenômeno das urnas.

O povo da cidade maravilhosa tem todas as qualidades das quais eu admiro, exceto claro, o seu gosto duvidoso na hora da escolha de seus governantes. Exemplos não faltam.

E pensar que há tão pouco tempo, Fernando Gabeira ou qualquer de seus simpatizantes era, por esta mesma elite, alcunhados, comumente, com adjetivações tais como bicha, comunista, maconheiro, seqüestrador, subversivo, terrorista, transviado, veado e por aí vai, agora recebe os láureos do moralismo da ex-capital do império.

Bom, mas para ligar passado, presente e futuro do agora astro redentor, encontrei na letra do poeta Chico Buarque, a mais perfeita tradução para este show de hipocrisia.

Geni e o Zepelin - Chico Buarque
De tudo que é nego torto,
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni/Joga pedra na Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir/Ela dá pra qualquer um/Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir (ESTA DAMA É O GABEIRA)

Essa dama era Geni/Mas não pode ser Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir/Ela dá pra qualquer um/Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele/vai Geni/Vai com ele vai Geni/Você pode nos salvar/Você vai nos redimir/Você dá pra qualquer um/Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni/Joga bosta na Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir/Ela dá pra qualquer um/Maldita Geni

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